Conjecturo a existência de uma correlação negativa entre o
número de economistas portugueses doutorados nos EUA e o crescimento do nosso
PIB per capita. Por outras palavras, quantos mais economistas dessa extracção temos,
pior se comporta a economia portuguesa.
Qualquer pessoa sensata dirá que se trata de uma correlação
espúria. Eu, porém, que não tenho que fingir sensatez quando escrevo num
blogue, não estou tão seguro disso.
Ora vejamos. Ao longo do século XX a economia portuguesa recuperou
uma boa parte do seu atraso em relação ao núcleo dos países europeus mais
desenvolvidos.
Eis senão quando, a partir da década de 80, um escol de
economistas portugueses recém-regressados ao país após o seu doutoramento na
América veio explicar-nos que até aí tínhamos feito tudo errado e que eles é
que sabiam o caminho para uma prosperidade para além dos nossas mais loucos
fantasias.
Como por cá valorizamos muito o que vem “lá de fora”, muitas
dessas pessoas lograram alcandorar-se rapidamente a lugares de destaque no
governo, na administração pública, no banco central e na academia, o que lhes concedeu
a oportunidade de porem em prática as suas ideias.
O que eles fizeram basicamente foi combater o chamado “intervencionismo
estatal”, na convicção de que o livre jogo dos mercados encontraria automaticamente
as melhores soluções para assegurar o crescimento para todos. Por outras
palavras: nada de entraves ao comércio externo, nada de limitações aos movimentos
de capitais, nada de política cambial, nada de política industrial, comercial
ou agrícola, nada de promoção de novas actividades económicas, nada de selecção
de sectores estratégicos para investimento, nada de empresas públicas, nada de
intervenção directa do estado na economia, nada de regulação dos mercados de
trabalho. A lista poderia continuar, mas creio que já ficou claro o receituário
dos economistas da escola “não te rales”.
O advento do Mercado Único e do Sistema Monetário Europeu
deram a esta corrente o apoio externo de que precisava para se impor sem
contestação, de modo que, desde então, o país prescindiu voluntariamente de
praticamente todos os instrumentos de política económica que contribuíram durante
mais de oito décadas para a prosperidade da economia portuguesa.
Passados vinte anos, dir-se-ia que já vai sendo tempo de se fazer
um balanço, não?
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