Com a sua usual amabilidade, o Paulo Gorjão fez-me notar na 3ª feira que, segundo a cronologia dos acontecimentos apresentada pela BBC, os primeiros lançamentos de rockets pelo Hizbolá precederam os bombardeamentos israelitas. Assim, estaria errada a minha afirmação de anteontem.
Esta informação surpreendeu-me, dado ser a primeira vez que vi mencionado esse facto. Fui verificar, e constatei que nem a cronologia da CNN, nem a da MSNBC, nem a da CBC News referem qualquer lançamento de rockets anterior à retaliação do exército de Israel. Pude inclusive constatar que uma outra cronologia difundida pela BBC News também não o menciona.
A disparidade informativa intrigou-me. Onde estaria a verdade?
Para aprofundar o assunto fui ver o que disse o próprio Governo israelita. Ora, curiosamente, a declaração de Ehud Olmert do dia 12, reproduzida no Jerusalem Post, classifica de "acto de guerra" a morte e o rapto dos soldados, mas omite qualquer referência aos tais rockets. Todavia, a notícia do jornal refere-os na última frase. Por outro lado, o site do Ministério dos Negócios Estrangeiros fala deles, embora não fique claro se o seu lançamento precedeu ou antecedeu a resposta israelita.
Seja como for, não tenho hoje dúvidas de que o Paulo Gorjão tem razão no que diz. Não sei ao certo se o Hizbolá disparou rockets sobre povoações fronteiriças israelitas no próprio dia 12 de Julho, mas não há dúvidas de que já o fez várias vezes no passado recente, por exemplo no dia 11 de Maio do corrente ano.
Por conseguinte, o meu comentário demasiado espontâneo ao post do Paulo de há dois dias estava factualmente errado.
Além disso, acho que errei também no plano da argumentação. Discutir "quem bateu primeiro" num conflito como este, que dura há décadas, acarreta uma regressão ao infinito que não nos leva a lado nenhum. Qualquer uma das partes pode invocar sempre uma violência anterior do adversário para justificar as suas. (Por exemplo, no dia 9 de Maio deste ano, as forças armadas israelitas dispararam um rocket sobre o Líbano, tendo posteriormente alegado que fora um engano.) Por conseguinte, a forma como respondi à questão colocada pelo Paulo Gorjão foi absolutamente inadequada.
Apesar da falta de tempo que tenho tido nos últimos dias - como vocês compreendem, também eu não sou um político profissional - não queria deixar de dizer isto. Quanto às questões de fundo, infelizmente creio que terei oportunidade de voltar a elas antes que a guerra termine.
28.7.06
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário