23.3.07

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Lê-se hoje na primeira página do Público:
"Juíza invoca Corão para negar divórcio."

Este título é falso. Basta lermos o texto que se lhe segue para ficarmos a saber que a juíza não negou o divórcio, mas apenas a sua urgência. Todavia, como qualquer jornalista sabe, a grande maioria das pessoas só lê os títulos, de modo que é o que neles se diz que é retido.

Continuando. Esta notícia tem depois direito a desenvolvimento nas páginas 18 e 19 - muito mais, recorde-se, do que a da redução do défice do OGE há alguns dias atrás. Enfim, mistérios dos critérios jornalísticos...

Aí ficamos a saber que a tal juíza já foi afastada do caso, pelo que, na verdade, o próprio sistema judicial alemão resolveu prontamente o problema que criara. Em resumo: na verdade não há caso, e o alarme não tem razão de ser. Uma juíza tonta asneou, e foi posta na ordem.

Porquê então tanto barulho? A resposta revela-se na página 46: todo o barulho criado pelo diário serviu apenas para estender o tapete vermelho ao sermão que o seu Director hoje nos serve sob a forma de editorial. Diz-nos ele, em jeito de conclusão:
"Há muitos que pensam, como ela [a juíza], que tolerância é sinónimo de cedências em nome do que se julga ser a herança de outras culturas."

Viu-se que a juíza não representa nada nem ninguém senão a sua própria demência. Mas José Manuel Fernandes quer à viva força convencer-nos de que a Alemanha e a Europa inteiras partilham essa atitude de subserviência perante o Corão. Conhecemos o método: daqui a uns dias voltará à carga dando por adquirido que isso mesmo ficou indiscutivelmente provado por este caso.

Estanos todos familiarizados com a ladainha do último neocon do hemisfério ocidental. Ainda assim, parece incrível que um jornal como o Público se preste a empolar de forma tão pouco rigorosa uma notícia (ou seria melhor dizer: uma pseudo-notícia?) com a única finalidade de satisfazer a agenda doutrinária do seu Director.

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