"Tudo lhe servia para composições mais ou menos interessantes. Sem energia decisiva, satisfazia-se registando no papel submisso, que obedece a tudo, as lucubrações nebulosas do seu espírito. (...) Escrevia tudo, porque o seu espírito, sem energia nem profundidade, tinha, todavia, a extensão própria da gente indeterminada. Os seus tratados são um compêndio das cogitações do tempo, e podem considerar-se o diário da sua vida. Um dia redigia as regras de governar (...); outro dia, dissertava sobre as regras de bem cavalgar (...). Depois, a economia doméstica: do que se deve aos criados; depois, a economia política: das valias do pão conforme as valias do trigo; depois, sermões e glosas místicas; depois, observações mineralógicas, astronómicas, biológicas (...); depois, dissertações morais; depois, notas de estado, papéis políticos sobre as questões acesas; depois, regras de demonologia. (...) O enciclopedismo é o traço característico da indeterminação do pensamento. (...) Meticuloso, como letrado que era, não lhe bastava ler: carecia de reproduzir por escrito as leituras próprias, coando-as pelo seu espírito bastante incolor."
Oliveira Martins, em "Os Filhos de D. João I", acerca dos devaneios intelectuais d' El-Rei D. Duarte.
5.3.07
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