22.3.07

Um testemunho

Quando acabei o meu curso, a secretaria descobriu que, afinal, ainda me faltava fazer dez cadeiras. Dez, digo bem!

A coisa era tão disparatada, que nem sequer o esquema de precedências tinha sido respeitado. Por exemplo, a secretaria reconhecia que eu fizera Economia II, mas não Economia I.

Caso a caso, tive que provar que a escola estava errada e que eu estava certo. Não foi fácil, visto que, inclusive, um professor já morrera.

No fim, ficaram dois casos por resolver: o primeiro, por manifesta má vontade do professor, apesar de ele admitir lembrar-se que eu tinha feito exame e passado; o segundo, porque o docente se tornara governante e, nessas circunstâncias, era mais difícil falar com ele do que com o Papa.

Mandei-os passear. Nessa altura já trabalhava, e a licenciatura não era decisiva para poder ganhar a vida.

Anos depois, a instâncias da família, lá fui pela segunda vez acabar o curso. As duas cadeiras haviam-se transformado em três devido a alterações curriculares. Despachei o assunto em três meses.

Durante mais de vinte anos acontecia-me acordar a meio da noite a sonhar que me telefonavam da secretaria do velho ISCEF para me dizerem que, afinal, tinham chegado à conclusão de que ainda me faltava mais uma cadeira para concluir a licenciatura.

Um amigo a quem reportei o facto confessou-me ter recorrentemente o mesmo pesadelo. Fiquei a saber que casos semelhantes tinham ocorrido com vários outros alunos da mesma escola.

Não faço a mínima ideia se houve ou não alguma irregularidade com a licenciatura de José Sócrates. Não conheço nenhum dos envolvidos.

A única coisa que posso afirmar por experência própria é que, infelizmente, a desorganização grassa em muitas universidades públicas e privadas. É verdade que passou muito tempo desde a minha absurda história, mas não creio que tenha havido grandes melhorias. Tanto quanto me parece, a única coisa que a investigação do Público prova é isso mesmo.

Mas, então, se o Público não apurou nada de substancial, por que é que publicou a peça? Não foi bonito.

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