9.3.08

A fragilidade da política da indignação

A gigantesca manifestação dos professores terá juntado 100 mil pessoas na capital. O que irá seguir-se?

A jornada de ontem foi convocada sob a ambígua bandeira do direito à indignação. O que significa isso ao certo? Qual o objecto exacto da indignação? Que pretendiam os manifestantes?

Ouvindo as declarações recolhidas pelos repórteres ficámos a saber que os professores não são contra a avaliação, que a aceitam mas não desta maneira e que a recusam sob qualquer forma. Muito esclarecedor.

Não restam porém, grandes dúvidas sobre o sentimento geral. Os professores, que foram forçados a trabalhar mais horas, como se prova pela drástica redução do absentismo no ano passado, montaram agora a sua última barricada em torno dos temas cruciais da avaliação e do sistema de gestão das escolas.

É o cancelamento dessas reformas que vão exigir? À primeira vista, dir-se-ia que sim, mas não foi isso que ouvimos da boca dos dirigentes sindicais. Carvalho da Silva e de Mário Nogueira decidiram nos seus discursos elevar a fasquia, exigindo, não a revogação das políticas, mas a demissão da Ministra.

É isso que interessa à Intersindical e ao PCP, embora não seja isso que une os professores. Logo, não creio que arrisquem a covocação de uma greve com esse objectivo.

A ambiguidade da convocatória foi o que permitiu mobilizar toda aquela multidão, mas essa mesma ambiguidade é, no dia seguinte, quando se procura tirar conclusões do acontecido, a sua grande debilidade. A política da indignação não é política nenhuma, e é por isso que se pode afirmar sem demagogia que os manifestantes foram instrumentalizados por desígnios políticos cujo sentido último lhes escapa.

Que vão exigir os partidos da oposição? Sabemos o que esperar do PCP, e, talvez, do Bloco, que a cada momento confirma a sua ausência de projecto próprio. E o PSD, e o PP, o que irão dizer? Que argumentos poderão usar para se poderem opor às reformas da educação?

Por conseguinte, tem o governo a faca e o queijo na mão, desde que, em vez de se limitar a reafirmar a continuidade da política educativa, retome a iniciativa e revele capacidade para conduzir o processo com mais inteligência e sensibilidade.

Se o essencial é retirar a gestão das escolas da alçada do poder dos sindicatos e devolvê-la ao governo legítimo, às comunidades locais e aos pais, então o essencial - a única coisa que verdadeiramente interessa - é o modelo de gestão das escolas. É com isso que a Ministra deverá preocupar-se, apoiando-se nas autarquias e nas associações de pais e sem se deixar distrair por questões acessórias.

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