25.3.08

O flagelo da adolescência



Não se percebe como é que sociedades pretensamente civilizadas persistem em contemporizar com esse costume bárbaro que dá pelo no nome de adolescência.

Durante esse período de transição, crianças adoráveis soltam-se dos colos das mães, largam os jogos inocentes e transformam-se subitamente em selvagens intratáveis que ganham acne, caspa e má educação. Repudiam os papás, os vóvós e os titios que os levavam aos desenhos animados, ao rinque de patinagem e ao jardim zoológico, e passam a acamaradar com gangues de desordeiros que escorropicham cervejolas e fumam ganzas pelas esquinas.

Todos, sem excepção, se transformam em delinquentes juvenis. Os mais cordatos atêm-se à fornicação descontrolada, os outros insultam os velhinhos que os empatam na bicha do Multibanco, roubam os telemóveis aos professores, empenham as pratas da família para comprar o produto, aceleram nos sinais vermelhos, espancam membros isolados de claques rivais, arremessam garrafas de Coca-Cola sobre a plateia do cinema, picham as carruagens do Metro, organizam corridas de mota em jardins repletos de crianças, furam os pneus à vizinhança, fogem das bombas de gasolina sem pagar ou criam blogues anónimos onde podem escrever ordinarices à vontade e postar videos que mostram as namoradas a fazer strip-tease ao som do “é o bicho, é o bicho”.

Leis utópicas (para não dizer totalitárias) forçam estes energúmenos a frequentarem escolas públicas onde são obrigados a permanecerem diariamente sentados durante horas escutando condenados às galés a arengarem sobre temas tão irresistíveis como o teorema de Pitágoras ou a lei de Boyle-Marriott. Tendo em conta que toda a sexualidade reprimida mergulhada numa banheira de água gelada sofre uma impulsão de baixo para cima igual à massa do líquido deslocado, só admira que em 2007 não se tenha registado nas escolas portuguesas um único caso de canibalismo comprovado.

Pretendem alguns sábios que o problema se resolveria acorrentando os animais às carteiras das salas de aula. Outros, de inclinação mais humanista, exigem a expropriação dos telemóveis, a reintrodução dos castigos corporais, o armamento dos professores, a colocação no pelourinho dos reincidentes ou o arrasamento das residências familiares. Sem esquecer, claro está, a revisão da Constituição para viabilizar essas medidas caridosas.

Estão todos errados. A praga que nos aflige – lamento dizê-lo – só poderá ser definitivamente erradicada proibindo de uma vez por todas a adolescência, essa chaga social com que todos há demasiado tempo pactuamos, nem que para isso seja necessário abolir a causa última do mal, ou seja a procriação. Talvez se trate de uma medida impopular, mas, dentro de alguns anos, ao escutarmos o silêncio que então reinará nas nossas ruas e nas nossas escolas, até os mais renitentes reconhecerão que essa terá sido, efectivamente, a melhor decisão.

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