1.4.08

A ASAE e a Reserva Federal

Em Outubro, recebeu um telefonema do banco avisando-o de que o fundo UBS em que colocara algum dinheiro já perdera um terço do seu valor. Aconselharam-no a tirar de lá o que sobrara, antes que a situação piorasse ainda mais.

Aparentemente, tudo normal: quem investe em acções ganha e perde, e às vezes perde muito. Só que aquele não era um fundo de acções. Tinha-lhe sido vendido como uma aplicação de baixo risco, incluindo obrigações, títulos do tesouro e coisas assim. Acontece que as "coisas assim" incluíam crédito hipotecário, mais concretamente - embora ele obviamente o não soubesse - crédito bancário subprime, ou seja, crédito de alto risco.

Por outras palavras, fora vigarizado, comprando como investimento de baixo risco um investimento de grau de risco desconhecido.

Imaginem que alguém que tem carne estragada pica-a e revende-a para ser misturada com outras carnes picadas de diversas procedências - umas boas, outras ruins. Depois de misturada, a carne picada resultante dessas trafulhices é revendida a empresas que com ela fabricam croquetes que os consumidores finais adquirem para a sua alimentação.

Alguns croquetes recebem pouca carne estragada; quem os come passa um mau bocado, mas safa-se. Em contrapartida, os croquetes feitos apenas de carne estragada podem matar quem os come.

Quando uma empresa vende croquetes estragados pode ser penalizada por esse facto e obrigada a indemnizar os consumidores. Se não sabe que comprou carne avariada, deveria saber. Pelo contrário, um banco que vende instrumentos de investimento inquinados não é forçado a assumir a responsabilidade perante os seus clientes.

No primeiro caso, a vigarice é castigada, quando não fiscalizada preventivamente pelas ASAE da vida; no segundo, é protegida por entidades reguladoras enfarpeladas e bem-falantes como a Reserva Federal norte-americana.

Sem comentários: