1.4.08

Curto prazo, longo prazo

A resposta das autoridades monetárias americanas à crise financeira tem consistido em injectar dinheiro no sistema para satisfazer as necessidades de liquidez dos bancos em apuros e em baixar a taxa de juro.

Mesmo que a estratégia funcione, esconjurando a ruptura financeira que todos acima de tudo temem, a longo prazo ela deixa os EUA em má situação, porque agrava o seu problema de fundo, que é o baixíssimo nível de poupança assegurada pelos particulares, pelas empresas e pelo Estado.

Quando situações idênticas ocorrem noutros países, o FMI impõe a subida dos juros, dos impostos e das taxas dos serviços públicos, muitas vezes acompanhada do corte das despesas estatais. Os EUA estão a fazer o oposto, o que levanta a questão de saber como tencionam financiar o seu crescimento futuro.

Ao longo de uma década e meia, o mundo inteiro - países pobres incluídos - canalizou as suas poupanças para a América. Primeiro para financiar investimento, depois, cada vez mais, para financiar consumo. Não faltaram profetas da nova economia a proclamar que o ciclo de económico havia acabado e que, devido à importância do dólar, os EUA nunca enfrentariam uma crise de solvabilidade semelhante à que anteriormente afligira tantos outros países.

Entretanto, o dólar perdeu metade do seu valor. Particulares, empresas e governos que haviam apostado no crescimento ilimitado da economia americana suportaram perdas colossais. A gestão irresponsável da economia é directamente responsável pela perda de confiança no dólar.

Os tempos mudaram, mas as autoridades americanas não querem entender isso. Continuam a pensar que não é necessário estimular a poupança. Por isso respondem à crise baixando a taxa de juro, uma política de curto prazo que hipoteca o seu futuro económico no longo prazo.

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