18.1.10

Keynes morto ou vivo

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Robert Skidelsky (foto acima), o mais proeminente biógrafo de Keynes, considera a economia uma ciência em regressão.

O seu último livro - Keynes: The Return of the Master - desenvolve longamente essa tese, mostrando como, ao longo dos últimos quarenta e tal anos, certas correntes de pensamento conservadoras se esforçaram por fazer retornar a teoria económica ao estado de quase absoluta esterilidade em que se encontrava antes da revolução keynesiana.

Skidelsky condena tanto os novos clássicos como os neo-keynesianos que apenas terão retido aspectos laterais e secundários das ideias de Keynes. Essa peculiar opinião resulta da importância que atribui às originais teses contidas no primeiro grande esforço teórico do maior economista do século vinte e que se encontra contido num livro hoje quase inteiramente esquecido: A Treatise on Probability.

Muito resumidamente, Keynes acreditava que o tipo de incerteza com que nos defrontamos na vida económica (por exemplo, quando alguém toma a decisão de fazer um determinado investimento) é radicalmente distinto do risco que pode ser objecto do cálculo probabilístico. Daí o seu cepticismo (que manteve até ao fim da vida) em relação à relevância da econometria para o progresso do conhecimento económico.

Ora, sustenta Skidelsky, se Keynes estava certo a este respeito, isso significa que a teoria económica dominante está errada, e esse extravio explica em boa medida a cegueira que, em 2000, colocou o mundo à beira do precipício.

Ao contrário do que frequentemente se diz, o desempenho económico mundial piorou progressivamente no que respeita a crescimento, desemprego e distribuição do rendimento à medida que o keynesianismo foi sendo abandonado. Apenas a inflação baixou, mas muito ligeiramente.

Superado o grande susto à custa de intervenções massivas dos estados suportadas pelos contribuintes, o establishment económico procura agora sair incólume do desastre fazendo-nos esquecer a gravidade do que se passou e sacudindo as responsabilidades que lhe cabem no sucedido ao propagar concepções económicas dogmáticas acerca da pretensa omnisciência dos mercados livres.

Skidelsky teme que se perca assim uma oportunidade única de retomarmos uma visão da economia mais sensata e, sobretudo, mais humana, e também de procedermos a uma reforma do sistema económico mundial que nos permita enfrentar com confiança os desafios do novo século.
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1 comentário:

B. disse...

Eu não sou economista mas lido muito com economistas e uso muito material de "law and economics" na minha actividade profissional.

Na minha modesta opinião de ignorante quer-me parecer que um dos erros dos economistas foi o de terem esquecido o conceito de modelo. Um modelo - principalmente matemático - é, por definição, uma simplificação, uma redução a fim de perceber um determinado mecanismo.

Actualmente, quando pego num livo de economia, tenho que o fechar porque os investigadores perdem mais tempo a fazer modelos matemáticos do que propriamente a investigar a realidade.

Quando comparo as investigações actuais com escritos como os de Berle/Gardiner, Ronald Coase ou Richard Posner só posso sentir-me desiludido. Estes autores escreviam textos acessíveis a um público sem formação económica. Os actuais escrevem tratados herméticos acessíveis apenas a matemáticos: aliás, nem é preciso saber de economia, basta saber matemática para perceber o argumento do texto sem o ler sequer.

E sou jurista e odeio não saber matemática pois os modelos matemáticos podiam ajudar a compreender muitos conceitos jurídicos.