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Se pudessem recorrer livremente ao FMI, os gregos conseguiriam empréstimos a taxas umas cinco vezes inferiores àquelas que estão a pagar. Como a União Europeia nem coisa nem sai de cima, a Grécia afunda-se num buraco.
A reacção dos mercados financeiros é, reconheça-se, inteiramente racional. As hesitações europeias criam condições para o agravamento do problema original, com o inevitável contágio a outros países da zona euro.
Se é tão difícil socorrer a Grécia, como será possível deitar a mão a Portugal e à Irlanda caso a situação se complique? E isto sem falar da Espanha, cujo défice comercial é, em termos absolutos, o segundo maior do mundo.
Não admira que alguns comentadores americanos, temendo o encarecimento dos juros que os EUA terão que pagar sobre a sua dívida externa, critiquem Obama por não pressionar uma intervenção rápida e decisiva do FMI sem depender mais dos humores de Ângela Merkel.
Quem injustificadamente supunha que o mundo financeiro pode colapsar com a falência do Lehman’s, mas não com o incumprimento da Grécia, teve hoje a resposta com todas as bolsas em queda. Não vale a pena enervarem-se, porque amanhã haverá mais.
É bonito Teixeira dos Santos exortar os portugueses a reagirem, mas o toque a rebate é deslocado. O que está em causa não é “os portugueses”, mas o seu governo, que teima em tratar os assuntos europeus como se relevassem da política externa, ou seja, como se estivéssemos fora e não dentro da UE e da zona euro.
O que "os portugueses" têm que fazer é pressionar uma intervenção rápida nas instituições europeias. Não entendo, aliás, como é possível que o nosso governo não tenha aproveitado estes últimos meses para concertar posições com a Espanha, a Grécia, a Irlanda e a Itália (que, em conjunto, representam mais de 1/3 da população da zona euro).
Os gregos foram enganados, ao imaginarem que, quando chegasse uma crise financeira séria, seriam apoiados pela Europa. Os alemães foram enganados, pois ninguém os avisou que o euro pressupõe solidariedade financeira.
Fracassou a ideia de que a construção europeia deve ser imposta de cima para baixo, pressionando a aprovação de políticas cujas consequências os governantes temem assumir abertamente. Agora, é o tudo ou nada.
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27.4.10
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