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Quem investiga por que é tão baixa a produtividade em Portugal acaba mais tarde ou mais cedo por tropeçar no tema da dispersão da nossa população.
Permanecemos um dos países menos urbanizados da Europa (segundo algumas fontes o menos urbanizado), o que implica custos elevadíssimos de infra-estruturação do território para proporcionar às populações serviços básicos de água, electricidade, telecomunicações, transportes, educação e saúde.
Um dos principais obstáculos à resolução destes problemas é a persistente ideologia ruralista que, invocando o bucolismo de qualquer aldeia miserável perdida no alto de um monte, combate a concentração urbana e exige que o Estado vá levar à porta de qualquer eremita tudo aquilo que ele entenda exigir.
O post que o José M. Castro Caldas escreveu sobre o eventual encerramento do ramal Lousã - Coimbra encaixa perfeitamente neste género literário. A dita linha férrea tem quase 30 kms de extensão e atravessa uma região insuficientemente povoada para justificar a utilização quotidiana intensiva de um comboio urbano (seja ele pesado ou ligeiro). Isso não comove, porém, o opinante.
Segundo depreendo, o grande argumento para continuar a haver essa ligação ferroviária é que dantes havia, mas eu tenho alguma dificuldade em me deixar impressionar pela força de tais razões.
Como seria de esperar, o José M. Castro Caldas considera desprezível a pequena dificuldade da, como ele escreve, "falta de verba". Ele vive na Lousã, dava-lhe jeito a automotora, que mais haverá a dizer? A verba tem que vir de algum sítio - provavelmente, do tal "imposto sobre as grandes fortunas" que duma vez por todas resolveria os problemas do país.
No mundo real, a "falta de verba" é uma dificuldade recorrente, de modo que é preciso fazer escolhas: ou ela vai para uma coisa, ou vai para outra. "Metros" na Lousã e em Mirandela não passarão certamente num teste de mérito comparativo face a outras alternativas mais prementes e racionais.
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17.1.11
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5 comentários:
O povoamento do interior era até à adopção dos mapas e reconhecimento de fronteiras pelo direito internacional o modo de assegurar integridade territorial (basicamente se não tivesse lá alguém a viver os vizinhos podiam ocupar). Só que entretanto passaram-se (apenas) dois séculos e os portugueses ainda não absorveram esta nova realidade. Não perceberam que não há valor nenhum em manter dispersão populacional e muito menos há retorno em gastar dinheiro nesse desiderato arcaico.
Os ruralistas chegam a dizer disparates como "não cabem todos em Lisboa" como se os 2milhões de habitantes de Lisboa não fizessem dela um vilarejo à escala global.
Infelizmente o problema é que as pessoas ainda não perceberam de onde vem o dinheiro do estado. Talvez se as pessoas de Almada soubessem que estão a pagar para a boa vida das pessoas na Lousã mudassem de ideias
Temos um problema de povoamento difuso e isso não tem nada a ver com as aldeias. Está-se a falar do litoral. Se atentar, por exemplo, à realidade do norte litoral, verifica esse fenómeno largamente em territórios como o Ave, o Cávado e o Tâmega. Esse sim é um fenómeno a combater. E também se deve combater, a meu ver, aqueles que têm uma ideia das grandes cidades de Lisboa e Porto como se fossem aldeias. Precisamos de Área Metropolitanas mais compactas e não menos.
No interior a coisa é diferente. O despovoamento e a desertificação, que não são geograficamente a mesma coisa, gera custos de não gestão do território. Alguns são mais evidentes do que outros, como é o caso dos incêndios. Mas temos muitas outras externalidades negativas.
Do comboio da Lousã não faço a mais pequena ideia. Mas, aí, devemos estar os dois iguais.
Concordo consigo, Rui.
Angela Merkel vê Portugal como João Castro vê a “ruralidade” portuguesa.
O Metro de Mirandela está sistematicamente cheio. É certo que não seria rentável se tivesse sido feito de raiz, mas não é o caso, pois aproveitou uma linha pré-existente. Dificilmente terá razão neste aspecto.
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