15.4.05

Agora é que vão ser elas



Leio nos jornais que foi finalmente descoberto o mítico Evangelho segundo Judas, a que Santo Irineu faz referência, muito provavelmente datado do terceiro século da nossa era e desde então proibido.

Segundo Jorge Luis Borges, Judas é de facto a figura central do cristianismo, dado que, sem a sua traição, a profecia não teria sido cumprida e Cristo não poderia ser reconhecido como o Filho de Deus.

Judas não ignorava a profecia. Jesus insistiu inclusivamente em recordar-lha horas antes da sua prisão. Ainda assim, foi em frente com a sua decisão, sem dúvida porque, se não o fizésse, a missão de Cristo na terra teria abortado.

Deu-nos assim o exemplo do sacrifício supremo. Eis aqui alguém que conscientemente se condena a si mesmo ao castigo eterno por amor de Deus. Se não traisse, Jesus seria salvo, mas o desígnio supremo de Deus não se cumpriria. Perante este supremo dilema moral, Judas não hesitou: condenou-se a si mesmo às penas do Inferno para que a humanidade pudesse ser salva.

Evidentemente, há outras possibilidades. A história a alegada traição pode ter sido inventada. Ou Judas pode ter sido uma vítima inocente de uma maquiavélica armadilha.

É por tudo isso que se torna extremamente interessante saber o que tem Judas a dizer em sua defesa. O direito ao contraditório chegou à Bíblia.

Serão as coisas o que parecem? Terá o infeliz sido enganado? O que lhe foi prometido em troca? Esperaria ele beneficar de imunidade? E estaria consciente de que o seu nome iria ser arrastado pela lama pelos séculos dos séculos? Não passará tudo de uma miserável calúnia? Será exacto o que se conta nos outros evangelhos? Porque quis a Igreja silenciá-lo? Iremos nós finalmente saber toda a verdade?

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