19.7.07

Um herói passageiro



A eleição de Nicolas Sarkozy gerou uma invulgar vaga de entusiasmo à direita, como se, em vez de substituir um Presidente da mesma área política, ele tivesse vindo pôr termo a um longo período de hegemonia esquerdista.

Explicaram-nos então que, tratando-se de um liberal não comprometido com a herança gaulista, entre ele e Chirac haveria um abismo de diferença, e que, por isso mesmo, estaríamos a assistir a uma viragem radical na vida política francesa.

Passou um mês, e a novidade já cheira a ranço.

Liberal, Sarkozy? Na cimeira europeia, conseguiu retirar dos propósitos da União a referência à livre concorrência. Dias depois, questionou a independência do Banco Central Europeu que, a seu ver, privilegia o euro forte em detrimento da defesa da competitividade das empresas. Adivinha-se que a seguir se empenhará em assegurar o controlo francês sobre a empresa que fabrica o Airbus.

De "liberal" fica apenas a promessa de reduzir os impostos sobre os rendimentos dos ricos, a exemplo do que fez Bush do outro lado do Atlântico.

Como se vê, Sarkozy é apenas mais um político na velha tradição do chauvinismo populista francês que já produziu grande figuras como De Gaulle mas também personagens grotescos como Napoleão III.

Não é liberal, tampouco fascista. É um aventureiro bonapartista que, a troco da popularidade, irá criar problemas sérios e duradouros tanto no seu país como na Europa.

Só a total ignorância da história francesa moderna justifica a excitação da generalidade dos comentadores com a eleição do Presidente Sarkozy.

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