7.1.08

Sob o manto diáfano da democracia, a nudez crua da verdade

Os recentes acontecimentos no Paquistão e no Quénia vieram recordar-nos que, nalguns países, a convocação de eleições gerais pode ser o último episódio que precede directamenta a guerra civil.

Como a democracia deve servir, entre outras coisas, para evitar que a violência seja a única via disponível para mudar de governo, segue-se que nesses casos ela não cumpriu o seu propósito.

Não é possível haver democracias liberais do tipo daquela que temos se as pessoas colocarem a lealdade à sua tribo ou à sua religião acima de tudo o resto. Nessas circunstâncias não há indivíduos, só há comunidades, cada uma das quais se acha detentora da verdade absoluta - logo não disposta a ceder seja o que for aos seus antagonistas.

No Ocidente, a dissolução dos laços tradicionais foi um processo longo, cuja eficácia resultou do efeito conjugado da mercantilização das relações sociais e da subjugação de todos os poderes locais e parcelares ao Estado central. É escusado lembrar que isso não sucedeu sem episódios de violência extrema.

Mesmo que concordemos que a democracia liberal é a melhor solução para todos os países, é absurdo pretender-se começar pelo fim.

Países como os atrás citados precisam, antes de mais, enquanto aguardam que o desenvolvimento económico acelere o processo de destribalização, de tribunais independentes e de polícia. Por outras palavras, necessitam de um Estado de Direito, que é a antecâmara incontornável da democracia liberal.

Sucede, porém, que, nesses mesmos países, o exército é muitas vezes a única força com capacidade e motivação para conduzir esse processo. (Lembremo-nos da Turquia e da China, por exemplo.) Aquilo que é detestável numa fase do processo histórico pode ter sido a única solução noutra anterior.

A outra possibilidade será a insitucionalização de formas de representação que reconheçam e acomodem explicitamente a existência de grupos sociais, étnicos ou religiosos distintos sem deixar de assegurar a protecção das minorias, como se está a tentar fazer no Afeganistão.

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