A nossa longa costa atlântica tem apenas dois portos naturais razoáveis: Lisboa e Setúbal. Comparem esta penúria com a abundância de abrigos que a Galiza e a Cantábria oferecem às embarcações, e terão uma ideia do problema que isto representa.
Essas condições naturais contribuiram de forma decisiva para que Lisboa se tornasse na capital do país e a sua área metropolitana na região mais desenvolvida, centro de atracção das mais variadas actividades industriais e de serviços.
Os anos passaram, mas a importância do porto de Lisboa para a economia da urbe permaneceu. A teimosa subalternização das necessidades da sua operação em relação às actividades de lazer só pode ser desculpada pela ignorância do modo como funciona a cidade.
Naturalmente, a organização da cidade deve equilibrar as exigências da produção com as do lazer, mas não há qualquer indício de que estas últimas estejam a ser desprezadas, bem pelo contrário.
Para quem ainda não reparou, de Lisboa a Cascais há uns trinta quilómetros de frente ribeirinha reservada a praias, portos de recreio, esplanadas, restaurantes, jardins e passeios públicos. Somos uns privilegiados, e continuaremos decerto a sê-lo.
Mais ainda, ao longo das últimas décadas foram alargados e melhorados drasticamente os espaços públicos confinantes com o rio, tanto a montante (Parque Expo e Santa Apolónia) como a juzante (zona compreendida entre o Cais do Sodré e Algés).
Se erro houve, esse terá sido o de descurarem-se um tanto as actividades portuárias em detrimento das de lazer. Que sentido faz então proclamar-se em tom enfático: "Lisboa é das pessoas, mais contentores não"? Nenhum, diria eu.
Dentro de certos limites - que não foram nem estão em vias de ser ultrapassados - mais contentores contribuem para que as pessoas vivam melhor. Quanto mais não fosse, porque neles se transportam as Corona, Budweiser e Tsing-Tao que depois são consumidas nos bares.
O porto é uma parte vital da cidade, há que cuidar dele. Há que saber merecê-lo.
3.11.08
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6 comentários:
Disse tudo.
Não, ainda não disse tudo. Para já, só discuti o título da petição do Tareco filho.
Os srs doutores não querem gente d efato-macaco aqui na baixa.
dizem que querem repovoar a cidade e depois mandam as pessoas para cacilhas e barreiro!
Isto doutores e arquitectos devem ter penas de pavão que se podem estragar em contacto com o povoleu.
MFerrer
Caro João Pinto e Castro,
Infelizmente, ao contrário do que GL diz, não disse tudo.
Não disse tudo porque não está em causa o Porto de Lisboa: está em causa a ampliação do terminal de Contentores de Alcântara. São coisas diferentes;
Porque a ampliação não vai servir Lisboa, nem sequer Portugal: vai servir a "Península Ibérica";
Porque não estão em causa "Portos de Recreio", nem "shots": Alcântara devia ser um pólo da náutica de recreio, o que é diferente - gera empregos, inscreve-se na estratégia do Governo (cf. PENT), e gera - isto é um feeling, posso estar errado - tanto rendimento para a APL e para Lisboa como o Terminal de Contentores (duas notas: a) refiro-me apenas à parte da APL, excluindo a Mota-Engil; e b) antes de se tomarem decisões destas devia haver, justamente, estudos comparativos. Não os há, porque nunca sequer foram consideradas alternativas);
Porque a nossa longa costa Atlântica não tem apenas dois portos razoáveis. Tem 4: aos dois que mencionou deve juntar Leixões e Sines, que estão construídos e devem ser aproveitados.
Espere um bocadinho, Luis, não gaste a tinta toda.
Há muita, João, obrigado.
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