9.6.09

Abster-se é tão mau como estacionar em segunda fila

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A abstenção eleitoral pode justificar da nossa parte, quando muito, um sentimento de comiseração, caso se diagnostique alguma espécie de deficiência cognitiva no paciente. Mas, descontadas situações especiais de força maior, o desprezo será a reacção mais apropriada.

Ora o descaramento dos abstencionistas atingiu nos últimos tempos tais proporções que alguns ousam apresentar-se publicamente como heróis da resistência contra a degradação da democracia. Justificam a sua atitude com o nojo pela política e pelos políticos, denunciam a falta de alternativas, exigem seriedade, recusam-se a pactuar com o sistema.

Balelas. Desculpas esfarrapadas. O cidadão responsável que não se revê nas propostas políticas existentes exprime-se votando em branco, não indo para a praia ou para o centro comercial.

O abstencionista é apenas um elemento anti-social, um oportunista que quer os benefícios da vida em sociedade e da democracia mas não estar disposto a mexer um dedo para dar a sua contribuição. O abstencionista não só cospe na cidadania como ainda por cima se orgulha disso.

Abster-se é tão mau como estacionar em segunda fila, como deitar cascas de laranja pela janela, como passar à frente na bicha do cinema, como meter cunhas na repartição, como violar a faixa bus, como desrespeitar o semáforo vermelho, como copiar nos exames, como urinar na piscina.

Terá o abstencionista razões para se chocar se alguém lhe chamar parasita?
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4 comentários:

Sibila Publicações disse...

São tintas leves para descrever os abstencionistas.

B. disse...

Caro Joao Pinto e Castro

De uma maneira geral concordo com os seus posts mas não com o teor (pelo menos parcial) deste post.

O abstencionista pode recusar exercer o direito de voto por pura falta de sentido cívico ou comodismo. Neste caso a sua crítica é inteiramente certeira.

O abstencionista pode todavia recusar exercer o direito de voto conscientemente. Neste caso a sua acção representa não uma forma de comodismo mas sim uma forma de protesto contra uma falha na democracia que se traduz na falta de reflexão do povo nas acções dos políticos.

Já sabemos que actualmente a política tem evoluído cada vez mais para uma "política-espectáculo" devido ao poder da comunicação social: o Berlusconi é o comediante oficial da nação, o Sarkozy é o "socialite", o Tony Blair era a estrela de rock e o Obama é o Messias.

Esta atitude dos políticos reflecte uma forma de distanciamento em relação ao povo, proporcionando-lhes pão e circo por forma a divertir a sua atenção dos problemas essenciais da nação. E as decisões importantes acabam por ser tomadas em segredo, de acordo com critérios pouco transparentes, havendo promiscuidades entre o poder político e económico e estendendo-se este cancro de tal forma a todos os espectros políticos que o cidadão responsável acaba por sentir-se impotente e achar que o seu votor é inútil porque os problemas fundamentais da democracia mantêm-se.

Quer exemplos? A Educação (uma área que tem merecido um notável consenso político) que está desajustada das necessidades do país e tem um pendor elitista; a Justiça (que está cada vez mais cara sem que existam mecanismos alternativos eficazes); as promiscuidades entre o poder político e económico (veja o caso Lusoponte e BPP); os exemplos alastram-se.

Não votar pode ser uma forma de protestar contra um estado democrático que não responde às necessidades cívicas e que não apresenta alternativas - seja de que cor partidária forem.

Usando uma perspectiva de agency costs - tão cara aos economistas - digamos que a situação é similar às sociedades de capital disperso.

Como o exercício do direito de voto do accionista individual não chega para mudar o conselho de administração que age em proveito próprio e é muito custoso arranjar outras pessoas que proponham administrar a sociedade de forma distinta e associar um número suficiente de accionistas que votem em bloco contra um conselho e coloquem outro na administração da sociedade, geram-se agency costs entre os políticos e o cidadão que o direito de voto não consegue suprir.

Nestes termos o cidadão abstém-se de votar e prefere quando muito mudar de sociedade perdendo o investimento realizado.

Rebel disse...

Fui lá, mas não encontrei no cardápio quem me convecesse!
Não faço da dádiva do meu voto uma leviandade. É preferível anulá-lo!
Por favor, não me venham com o argumento do mal menor, que já dei para esse peditório!

CN disse...

pode chamar-me os nomes que quiser. não sei o que ganha com isso, além de descarregar a bílis... mas acho engraçado que o falhanço de sucessivos governos que provocaram esta descrença na eleição desta élite que se auto propõe a governar o país seja, agora, atribuído ao abstencionismo.