29.6.09

O abalozinho, últimas notícias

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Uma crise como a actual não tem uma única causa, tem muitas.

Para percebermos o que poderá acontecer daqui para a frente, porém, basta olhar para os actuais desequilíbrios financeiros internacionais. Nos últimos anos, um pequeno grupo de países (China, Japão e Alemanha) acumulou poupanças colossais, as quais financiaram níveis igualmente enormes de despesa em muitos outros países.

É hoje claro que este desequilíbrio não pode persistir porque os consumidores e as empresas que se endividaram entendem que a situação atingiu os limites. Por isso, estamos a assistir a um rapidíssimo aumento da poupança na generalidade dos países devedores, com reflexos imediatos na queda das suas importações.

A longo prazo isto é indubitavelmente bom. Porém, se a procura cair a pique nos EUA e num bom número de países da UE, o Mundo poderá mergulhar numa recessão profunda e duradoura, geradora de desemprego e miséria numa escala a que já não estamos habituados.

A melhor forma de o evitar seria a China, o Japão e a Alemanha reduzirem a poupança e o seu excedente comercial. A China e o Japão parecem estar a fazer isso mesmo, embora com relutância.

Surpreendementemente, a Alemanha, cuja política económica tem repercussões mais directas sobre a conjuntura europeia em geral, e portuguesa em particular, recusa-se a cooperar. Em vez de, como seria racional, expandir a procura interna, o governo alemão pretende sair da crise pela via do crescimento das exportações. Pior ainda, comprometeu-se com a aprovação de uma regra constitucional que proibe a existência de défices orçamentais, o que equivale a fechar o cofre e deitar fora a chave.

Angela Merkel esquece-se que, para vender Mercedes, é preciso que alguém compre Mercedes. A Alemanha optou por uma via neo-mercantilista que faz do excedente comercial um valor absoluto, independentemente de quaisquer outras circunstâncias.

O resultado será desastroso para a Alemanha e para a União Europeia. Não tardará muito até tornar-se evidente como é absurda a descoordenação da política económica europeia que se instalou. Tudo indica que, graças à clarividência de Barroso e seus amigos, podemos contar com um recessão profunda e prolongada.
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