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Na versão do Tony Judt, a história da Europa desde 1945 quase só existe como reflexo e episódio da Guerra Fria. Percebo que essa perspectiva venda bem nos EUA, mas é pobre e, em última análise, falsa.
Isso resulta em parte de o Judt ver os combates ideológicos europeus da época à luz da muito particular perspectiva britânica, onde a esquerda do trabalhismo (basicamente trotskista) conservou ao lngo dos anos 60 e 70 um considerável fascínio pela União Soviética - uma circunstância absolutamente peculiar na esquerda europeia. Decorre inevitavelmente daí uma versão provinciana dos acontecimentos.
A única secção do livro que verdadeiramente apreciei foi aquela que descreve com nostalgia o impacto que o cinema teve na cultura popular europeia.
Por outro lado, não acredito que Ill Fares the Land, o mais recente livro do Tony Judt, marcado de uma ponta à outra por um tom passadista, faça algum bem à social-democracia. Sejamos claros: a social-democracia que ele recorda com saudade não tem futuro, pela simples razão de que as realidades económicas e sociais que lhe deram origem não existem mais.
Desconfio que a sua comovida evocação dos "bons velhos tempos" servirá apenas para confirmar nas novas gerações a suspeita de que a social-democracia não tem nada para nos oferecer no presente excepto desesperadas jeremiadas moralistas.
Os escritos de Judt que mais apreciei foram precisamente os seus mais recentes e derradeiros testemunhos pessoais de gente e circunstâncias que conheceu de perto, sobretudo pela convicção, sinceridade e atenção ao detalhe que a sua sempre notável escrita aí revelam.
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9.8.10
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3 comentários:
"Isso resulta em parte de o Judt ver os combates ideológicos europeus da época à luz da muito particular perspectiva britânica, onde a esquerda do trabalhismo (basicamente trotskista) conservou ao lngo dos anos 60 e 70 um considerável fascínio pela União Soviética": eu julgava que o George Orwell era trotskista, como o encaixas? (se calhar a característica principal é não se encaixar...)
Orwell morreu em 1950, e não tinha, já nessa altura, qualquer simpatia pela União Soviética.
Não conheço em detalhe o seu percurso ideológico, mas não creio que em algum momento tenha propriamente sido trotskista.
É um livro muito interessante e esclarecedor sobre a Europa desde 1945.
O problema de não ser um livro perfeito não chega a ser um problema.
A questão é que só meia dúzia de boas almas o irão ler em Portugal.
A perspectiva portuguesa acerca da Europa e do Mundo será a da Bola,a do Correio da Manhã e a do Jornal do Crime.
Se na pocilga se lesse este livro já era um milagre.
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