20.2.13

O estado vai ter que gastar mais

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No Negócios de ontem dou o meu modesto contributo para a reflexão sobre a reforma de estado:
A perspectiva da subida contínua dos preços relativos dos serviços pessoais trabalho-intensivos resistentes à automação afigura-se, à primeira vista, algo assustadora. Segundo algumas estimativas, se os custos dos cuidados de saúde continuarem a subir como até agora, saltarão de 15% do rendimento do americano médio em 2005 para 62% em 2105, um século depois. Nessas condições, uma vez pagas essas e outras despesas com serviços essenciais, pouco sobrará para tudo o resto, incluindo coisas tão vitais como habitação, transporte, alimentação e vestuário. Note-se, além disso, que esta previsão em nada depende de a prestação dos serviços de saúde ser pública ou privada.
Como corolário desta dinâmica dos custos, caso uma parte substancial da saúde e da educação continue a ser assegurada pelo estado, a despesa pública representará uma parte cada vez maior do rendimento nacional, certamente muito superior aos 50% que já hoje são comuns nos países mais desenvolvidos e que tanto alarmam muito boa gente.
Sucede, porém, que a generalizada preocupação com este problema resulta em boa parte de um mal-entendido e que a cura usualmente proposta para o resolver pode ter resultados bem mais graves que a doença. Desde logo, embora uma parte cada vez mais reduzida do rendimento seja dedicada à aquisição de bens físicos, o crescimento sustentado da produtividade agrícola e industrial significa precisamente que essa parcela, embora menor, nos permite comprar cada vez mais alimentos, automóveis, roupas ou computadores. De modo que poderemos ter ao mesmo tempo acesso a mais bens produzidos tanto pelo sector crescentemente automatizado da economia como pelo de produtividade estagnada.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Concordo com a sua análise. Mas quando se refere ao "crescimento sustentado"da produtividade agricola, fico na dúvida se estará a ponderar devidamente que ela resulta em grande parte de soluções de uso de energia cuja sustentabilidade é mais que questionável. Conforme tem demonstrado David Pimentel, entre outros, a incorporação de energia em cada caloria que consumimos tem observado um crescimento constante sem que se tenha resolvido paralelamente e de forma minimamente satisfatória a questão do aprovisionamento ( fóssil...) que o tem viabilizado. A continuar assim, há uma parte significativa da sua argumentação que fica enfraquecida, penso eu....

Cumprimentos.

MRocha