11.12.03

Juventude desenganada

Na sua resposta ao meu post («Não está certo abusar da ingenuidade da juventude») Semiramis prova que, além de conhecimentos, também tem bom senso.

Surpreendemente, ou talvez não, concordo com quase tudo o que ela diz.

Também eu conclui há muito tempo que a Organização Industrial é uma das poucas áreas da teoria económica em que se faz verdadeira investigação científica. O problema é que, quanto mais se estuda essa sub-disciplina, mais se conclui que o grosso da Microeconomia é um engano.

As simplificações da Microeconomia não são um primeiro passo no caminho da verdade; são uma auto-estrada sem portagem para o erro. Vai daí, a obsessão de fundar a Macro na Microeconomia assegura que a primeira assenta nas estacas podres da segunda.

(Diga-se de passagem que, se a física admitisse essas absurdas exigências metodológicas, não conseguiria viver com as contradições entre a mecânica quântica e a mecânica clássica.)

O problema é que, se Semiramis admitir isto, não pode continuar a recorrer à teoria económica para pronunciar sentenças definitivas sobre toda a espécie de problemas da nossa organização social. O equilíbrio económico geral é uma ficção. A eficiência dos mercados é, em geral, uma miragem. O comportamento dos consumidores é certamente racional, mas não no sentido usualmente atribuido ao termo. A livre concorrência nem sempre conduz a bons resultados.

Admitir isto não obriga a concluir o contrário, ou seja, que o mercado é condenável, que o progresso se obtém condicionando a concorrência, que o controlo da actividade económica deve ser entregue ao Estado, etc., etc. Mas força-nos certamente a analisar cada situação concreta com muito mais cuidado.

Não duvido que haja muita coisa útil na teoria económica. Mas acredito que o seu mainstream é uma simples doutrina ideológica e politicamente motivada que não merece muita confiança.

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