As minhas inclinações literárias são todas para os clássicos. Se há tanta coisa magnífica escrita há séculos de que ainda não disfrutei, porque é que hei-de perder tempo a ler aquela obra incontornável editada hoje de que ninguém vai lembrar-se amanhã?
Apesar de tudo, para não perder totalmente o contacto com os outros peixinhos do meu aquário temporal, de vez em quando atiro-me a um autor contemporâneo.
Lamento informar, porém, que o resultado, mesmo quando agradável para mim, revela-se desastroso para o próprio, visto que pouco depois morre.
O primeiro caso ocorreu com o Bruce Chatwin, que só sobreviveu uns meses à minha leitura fatal. Seguiu-se o Robert Carver, acompanhado de perto pelo Italo Calvino e, depois, pelo Primo Levi. No ano passado comecei a ler o prodigoso W. G. Sebald; este ano, ei-lo que morre num acidente de automóvel.
Que estranha maldição será esta? Serei eu uma espécie de Rei Midas ao contrário que transforma em cadáver tudo aquilo em que toca?
Estava eu a contar isto ao Miguel, quando ele alvitrou: «Ó pá, porque é que tu não começas a ler o Saramago?»
Acudiu o Luis: «E não queres experimentar também o Lobo Antunes?»
Alguém aí na plateia tem mais alguma encomenda a fazer?
Mas atenção: não julguem que vou trabalhar à borla. Acho que acabo de descobrir uma forma de me tornar num assassino a soldo sem correr o risco de ser descoberto!
17.12.03
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