9.12.03

Mystic River



Em Mystic River, um acontecimento inesperado e cruel despoleta uma sequência imparável de eventos que arrasta os seus protagonistas como a torrente de um rio caudaloso.

Naquele dia, todos os três amigos entraram naquele carro. E, com eles, não o esqueçamos, nós também. Parte da magia de Mystic River consiste em fazer-nos sentir desde o primeiro momento que não há salvação para aqueles rapazes porque algo de profundo morreu ali.

Neste filme tudo é inevitável como uma tragédia grega, como uma vida ou como uma história bem contada. O final está inteiramente contido no princípio, como se de uma demonstração lógica se tratasse. A assinatura dos três amigos no cimento permanece lá gravada para que nenhum possa alguma vez esquecer como tudo começou.

Jimmy, Sean a Dave fazem todos o seu melhor, cada um à sua maneira, mas isso de nada serve. Não há como inverter a marcha dos acontecimentos. Jimmy quer ser um bom pai, mas a filha estava a preparar a fuga quando foi morta. Dave quer proteger as vítimas, mas só consegue criar outras. Sean quer amar, mas só provoca sofrimento.

Clint Eastwood criou um filme perfeito: pela unidade e eloquência do enredo, pelo poderoso sentimento de verdade que dele se desprende, pela riqueza dos personagens (mulheres incluidas, especialmente Celeste), pelo modo como cada um deles ocupa alternadamente o centro da acção, pelos pequenos detalhes decisivos que dão espessura ao filme, pelo desempenho de todos os actores principais e secundários, pela forma discreta mas eficaz como a metáfora do rio é utilizada.

O princípio da história mostra-nos como o mal destrói a inocência. Como esta tese é demasiado banal, ficamos a saber no fim que a inocência também pode ser a inesperada causa do mal.

Surpreendemente, e bem vistas as coisas, o final é feliz, na medida em que a felicidade é possível para os sobreviventes, todos eles a um tempo crentes e descrentes num novo começo.

Este não é um filme desesperado, apenas humano. Às vezes, como recorda Jimmy a dado momento, um pequeno acontecimento pode mudar a história. Ou não.

Sem comentários: