29.12.03

O capital não tem pátria, excepto quando é estrangeiro

A venda da maioria do capital da Somague à espanhola Sacyr não configura nenhuma situação de conquista ou expoliação. Pura e simplesmente, a família Vaz Guedes troca capital corpóreo por capital incorpóreo; como em qualquer outra transacção, ambas as partes ficam a ganhar, porque cedem uma coisa a troco de outra que consideram mais valiosa.

Além disso, tanto os trabalhadores da Somague como os restantes cidadãos portugueses só têm a lucrar se, como é de esperar, se criarem condições para a empresa se tornar mais eficiente. Por consequência, de um ponto de vista estritamente económico, não há nada a lamentar.

Acontece que esta análise, em linha com a teoria económica dominante, esquece a questão o poder. Descontando o problema da eficiência, será a mesma coisa ter patrões portugueses ou estrangeiros? Obviamente, não é -- digo-o pela minha experiência pessoal do modo como funcionam as multinacionais.

A única razão pela qual tantas empresas americanas têm a sua sede europeia em Londres é a facilidade de entendimento com os indígenas, e não qualquer consideração de eficiência ou produtividade. Vai daí, as empresas multinacionais compreeendem muito melhor os problemas com que convivem directamente do que aqueles com que se defronta um longínquo gestor em Lisbon, Spain.

Acontece, porém, que a preservação a todo o custo dos centros de decisão nacionais não é uma solução, a menos que se esteja disposto a premiar a incompetência fomentando o proteccionismo.

Que fazer? A Volvo pertence hoje ao grupo Ford mas, apesar disso, ninguém sonha tirar a empresa da Suécia e mudá-la para os EUA. Porquê? Porque os engenheiros e os técnicos suecos detêm certas competências que não são facilmente replicáveis noutras latitudes.

O que demonstra que o essencial não é proteger centros de decisão mas estimular a emergência de centros de competência.

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