Milton Friedman
Semiramis é um blogue que se debruça com invulgar seriedade sobre os temas que aborda, situados principalmente, mas não só, na área económica. O cuidado que põe na argumentação não pode deixar de seduzir um racionalista em part-time como eu.
Surpreende-me, porém, a credulidade da autora em relação à ciência que abraçou. Embora eu partilhe com ela a mesma formação de base, habituei-me a desconfiar de uma parte substancial da teoria económica pela simples razão de que está tão longe de qualquer método reconhecidamente científico como a escolástica medieval.
Pegue-se, por exemplo, na Macroeconomia do Barro ou na Microeconomia Intermédia do Varian, e é impossível a alguém não totalmente toldado pelos preconceitos da profissão deixar de ficar perplexo. A matéria encontra-se organizada de uma forma rigorosamente lógica, com as diversas teorias a serem deduzidas de um conjunto de axiomas de base, um método certamente recomendável para a geometria, mas não para uma ciência que se quer experimental.
Uma boa parte desses axiomas são reconhecida e demonstradamente falsos, como resulta das investigações de economistas laureados como Simon, Arrow e outros. Mas esses factos são ocultados aos jovens estudantes, e toca a andar. Mais tarde, quando também eles tiverem cumprido todos os ritos de iniciação e lhes for muito difícil voltar atrás, serão confrontados, tarde demais, com a terrível verdade.
Estes e outros manuais raramente se incomodam a falar da realidade (mesmo sob a forma de factos estilizados, que é o nome que os economistas dão às teorias observacionais). Algumas historietas, às vezes meras anedotas, bastam para criar a ilusão de que a teoria lida adequadamente com os factos económicos conhecidos.
Em geral, nada ou quase nada se diz como é que as teorias expostas se sairam quando testadas contra os factos, pela simples razão de que muitas delas têm uma sustentação empírica nula ou altamente duvidosa.
Resumidamente, a ciência económica (e particularmente o seu ensino) tem vindo a evoluir por caminhos muito duvidosos. Basta comparar a riqueza da análise de economistas como Keynez com a pobreza franciscana das argumentações que hoje nos são servidas para se perceber o que eu quero dizer.
5.12.03
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