4.2.04

Os bois e os seus nomes

Levanta-se de novo por estes dias o coro contra a promiscuidade entre a política e o futebol.

Parece-me isto a mim um eufemismo incompreensível. O partido que está enfiado até ao pescoço no futebol é o PSD, não é mais nenhum.

É isso mesmo. Os outros partidos têm um ou outro militante envolvido, mas são meros amadores. Nenhum consegue, nem de perto nem de longe, rivalizar com esta linha de ataque: Gilberto Madáil, Valentim Loureiro, Santana Lopes, Fernando Seara, Lourenço Pinto, Pôncio Monteiro...

Querem mais? Eu nunca me rebaixei a comprar um jornal desportivo, de modo que tenho que me resignar a listar os que vejo na televisão e que sei de ciência certa que foram ou são ministros, presidentes de câmara ou deputados do PSD.

Aliás, isto é perfeitamente normal. Nunca é demais sublinhar que o PSD não é um partido «normal», querendo eu com isso significar que não é um partido que se rebaixe a ter uma ideologia ou princípios políticos reconhecíveis.

O PSD, herdeiro directo de outras forças políticas que, com variáveis designações, marcaram a vida política portuguesa dos últimos dois séculos é, na verdade, o partido dos poderes fácticos.

Se tem uma ideologia, é a ideologia do poder. Verdadeiramente, nada mais os une senão essa profunda e quase comovente convicção de que nasceram para mandar. Para mandar no país, para mandar no futebol, para mandar nos bancos, para mandar nos bombeiros, para mandar nas ordens profissionais, para mandar na polícia, e por aí fora.

A sua vocação é ser a União Nacional dos poderosos, daqueles que assumem e transmitem o poder de pais para filhos. Pensem um bocadinho e vejam lá se não é assim.

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