21.8.05

FCPorto para consumo nacional

A globalização do futebol conduziu à concentração do poder em meia dúzia de clubes dos países europeus onde a dimensão do mercado publicitário produz maiores receitas televisivas.

Os clubes dos países de segunda linha do futebol europeu, incluindo Portugal, Holanda, Escócia, Bélgica, ex-Jugoslávia e Roménia, foram triturados por este processo, limitando-se hoje a fornecer jogadores talentosos aos clubes italianos, espanhóis, ingleses e alemães.

Há apenas uma excepção a esta regra: o FCPorto.

A consequência é que, quer se queira quer não, o FCPorto se situa hoje num plano de enorme superioridade em relação aos adversários nacionais, de tal sorte que o seu orçamento quase iguala o de todos os restantes clubes da Primeira Liga somados.

Isto tem múltiplas implicações. Para conservar a sua hegemonia nacional, o FCPorto necessita de se qualificar todos os anos para a Liga do Campeões, e a única forma de o garantir é sagrar-se campeão nacional. Mas esse objectivo é apenas um meio para atingir um outro fim: chegar todos os anos, pelo menos, aos quartos de final da principal prova europeia.

Nestas condições, ser campeão nacional é hoje uma grande glória para o Sporting e para o Benfica, mas não para o FCPorto.

Até ao ano passado, o FCPorto demonstrou pela positiva que o dinheiro não é tudo no futebol. Na vergonhosa época 2004-5 empenhou-se em demonstrar a mesma tese pela negativa, fazendo tábua rasa dos princípios que orientaram o clube nos últimos 30 anos. A absoluta falta de respeito pelos jogadores, pelos técnicos, pelos associados e pelo público foi a face visível de uma política de vendas e contratações que enriquececeu muita gente ao mesmo tempo que deixou a equipa de rastos.

Com Adriaanse, as coisas parecem ter regressado à normalidade. A equipa tem hoje um modelo de jogo, coisa que nunca se viu na última temporada, mas ainda não estou convencido de que esse modelo seja adequado às ambições do clube e ao seu actual plantel.

Na baliza, o FCPorto tem aqueles que são, de longe, os dois melhores guarda-redes a jogar em Portugal. Do meio-campo para a frente, conta com futebolistas suficientes para formar duas equipas campeãs nacionais. Não tem, todavia, um único defesa de nível internacional, pelo menos enquanto Nuno Valente permanecer de fora.

Em conclusão, o prognóstico é reservado. Para consumo nacional, deve bastar. Nas competições europeias, porém, a equipa arrisca-se a fazer muito fraca figura se o treinador não inventar uma fórmula mágica para a defesa, que não consistirá, certamente, em jogar com três centrais.

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