Embora nunca tenha sido muito dado a filosofias, Soares sabe que ele é ele mais a sua circunstância.
Não parte para nenhuma batalha apegado a posições fixas ou ideias pré-fabricadas. Bem pelo contrário, vai fazendo a sua estratégia enquanto anda. É, por assim dizer, um pensador peripatético.
O que faz dele um adversário temível é, antes de mais ,a sua imprevisibilidade. Norton de Matos estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra. Salazar estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra. Marcello estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra. Cunhal estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra. Eanes estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra. Zenha estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra. Cavaco estava à espera de uma coisa, e saíu-lhe outra.
Um dos problemas da candidatura de Cavaco, é que não faz a mínima ideia que adversário vai ter pela frente. Imagina talvez que lhe sairá ao caminho um Soares esquerdista e anti-americano. Fatal ingenuidade.
Quando era um simples comentador, Soares sabia que podia dizer "n'importe quoi", desde que contribuisse para construir a sua imagem para a posterioridade. Agora, precisamente porque tem a esquerda bem agarrada, lançará sem dúvida outros temas susceptíveis de captarem o eleitorado que lhe falta para ser eleito Presidente.
Os racionalistas imaginam que a política se faz com esquemas traçados a régua e esquadro no sossego dos cabinetes. Os intuitivos como Soares sabem que o caminho se faz caminhando.
O políticos experientes apegados aos métodos que no passado resultaram, correm o risco de tentar aplicá-los em circunstâncias inapropriadas. É o caso de Cavaco, um típico "one trick poney". Apesar da falta de rins, ele é um trinco razoável, só que hoje a táctica do "catenaccio" já caíu em desuso.
Soares, pelo contrário, é um polivalente. Tanto joga no meio-campo como à defesa ou ao ataque. Mas é claro que o seu ponto forte é distribuir jogo.
24.8.05
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