21.12.05

Quem ganhou?

As questões colocadas pelo Paulo Gorjão fazem todo o sentido.

Entretanto, eu gostaria de pegar no assunto por outro lado. Ao contrário do que as pessoas parecem pressupor, uma questão do tipo "Quem acha que ganhou o debate de hoje à noite?" é tudo menos clara.

Como se torna evidente quando ouvimos as pessoas discutir o debate, uma pergunta dessas pode ser entendida de várias maneiras. Eis algumas:

1. Quem acha que revelou maior capacidade de argumentação?

2. Quem acha que foi mais convincente?

3. Quem acha que se defendeu melhor?

4. Quem o convenceu a si?

5. Quem acha que convenceu os outros?

6. Quem conseguiu alterar a seu favor a opinião do eleitorado?

Ontem, logo após o debate, o Director do Público opinou que a vitória táctica foi de Soares, mas a vitória estratégica foi de Cavaco. Entendo perfeitamente o que ele quer dizer, mas fico a pensar como responderia JM Fernandes à sondagem realizada.

A ideia de perguntar às pessoas se mudaram de opinião em função do debate parece boa, mas tampouco funciona. Poucas pessoas estarão disponíveis para admitir que um mero debate inflectiu o seu sentido de voto, porque isso fá-las parecer algo volúveis, ou mesmo tontas. A única forma de ter alguma ideia do impacto do debate consiste em acrescentar uma outra pergunta sobre a orientação política ou eleitoral do inquirido, como de resto foi sugerido pelo Pedro Magalhães.

Além disso, é mesmo pouco provável que muita gente mude de opinião acerca de dois homens que conhece há pelo menos um quarto de século em consequência de uma troca de palavras mais acesa. Quase toda a gente sabe quem são Soares e Cavaco e quase toda a gente tem uma ideia sobre a adequação do seu perfil ao cargo de Presidente da República.

É todavia possível que um debate destes persuada alguns a ganharem confiança para declararem uma intenção de voto que até aí tinham ocultado. Estou convencido de que este é um fenómeno muito frequente, mas não tenho provas indiscutíveis do que afirmo.

Não se deve fazer às pessoas perguntas a que elas não sabem ou não querem responder. Esta é uma verdade sólida que todos os especialistas de research conhecem, mas que o público e os comentadores têm alguma dificuldade em entender.

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