9.5.07

O reino da trafulhice

Se a trafulhice está em toda a parte, não há no fundo grande mal em sermos também nós próprios pelo menos um bocadinho trafulhas. O mundo não piora por isso, e nós, armados em anjinhos, só nos prejudicaremos se não agirmos com o pragmatismo que a vida impõe.

Afinal, o indivíduo inteligente, que não se deixa comer por parvo, sabe que o homem é intrinsecamente mau e que, como dizia aquele grande filósofo, "o fair-play é uma treta".

Outra maneira de dizer isto: se a trafulhice está em toda a parte, então não está em parte alguma. Não é propriamente um comportamento criticável, mas apenas uma forma socialmente aceite de adultos conscientes se relacionarem uns com os outros. Ninguém de facto engana ninguém, porque é isso que se espera que toda a gente faça.

Um último ponto: a minha experiência pessoal sugere que, com frequência, as pessoas que vêm trafulhice em toda a parte são elas próprias muito versadas em trafulhice. O generoso tende a encontrar generosidade onde quer que vá, tal como o interesseiro se imagina sempre cercado por interesseiros. Todos temos tendência a interpretar os comportamentos dos outros à luz das nossas próprias motivações.

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