Foi preciso o exilado político João Cravinho vir a Lisboa para conseguirmos ouvir alguém declarar o óbvio acerca do relatório comparativo entre as alternativas Ota e Alcochete elaborado pelo LNEC, ou seja: que algumas das conclusões contidas no documento não são suportadas pelos restantes capítulos que nele se incluem; que a opção Alcochete foi convenientemente aligeirada de importantíssimas rubricas de custos; que a recusa de atribuir uma ponderação aos diversos factores envolvidos na escolha final é a anedota do século; e que o Presidente do Instituto tem invocado em intervenções públicas argumentos que os estudos disponíveis não confirmam.
Não advogo que o dossier do novo aeroporto seja reaberto. Lisboa precisa urgentemente de uma infraestrutura capaz de proporcionar níveis de serviço adequados a todos os interessados, e já se perdeu demasiado tempo.
Mas é indispensável que se compreenda o monumental logro que culminou na escolha de Alcochete e que se medite sobre as condições que, neste caso como noutros, permitiram que, com toda a tranquilidade e com o aplauso de tantos inocentes úteis, se fizesse tábua rasa do interesse nacional. Um Estado frágil, indefeso perante o peso e a capacidade de mobilização dos interesses particulares, é o terreno fértil no qual cresce e alastra a corrupção.
O caso passou-se à vista de todos: ninguém pode queixar-se de falta de transparência. Não podemos, pois, pretender que a culpa é dos outros, que não temos nada com isso, que a responsabilidade é dos políticos. Mas parece que, tirando o Engº João Cravinho, não há no país nem técnicos nem figuras públicas com coluna vertebral.
9.2.08
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