Por que será que, quanto mais assisto a debates sobre a corrupção, mais me interrogo sobre o real sentido desta vozearia tonta que se apropriou do espaço público?
A indignação jorra em abundância de todos os lados, mas a indignação é apenas uma forma pretensiosa de urro. Bramar contra a corrupção parece hoje uma forma segura de conquistar tempo de antena, mesmo quando (sobretudo quando) a forma prevalece de forma patente sobre o conteúdo. A firmeza no combate à corrupção constrói hoje reputações sólidas, pouco importando que essa firmeza se esgote em declarações perante as cameras de televisão.
Como separar, nesta espessa névoa de palavras, a realidade da ficção? E será que isso interessa? Ou não será o entusiasmo público por estas fábulas precisamente uma forma de compensar o déficite de ficção - seja ela novelística, teatral ou cinematográfica - de que o país obviamente padece?
12.2.08
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