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Alguns media estão indignados pela alteração do método de cálculo da taxa de desemprego.
Dizem, por um lado, que o inquérito telefónico transforma o processo numa sondagem; por outro, que os dados deixam de ser comparáveis com os do passado.
Sucede que as estatísticas do desemprego sempre foram calculadas por sondagem através de uma amostra aleatoriamente constituída. Ou julgam que o INE ia casa a casa perguntar a toda a gente se tinha ou não tinha emprego? Você, por exemplo, alguma vez foi inquirido?
Depois, há a questão da comparabilidade. Ora, variando a amostra de sondagem para sondagem, varia também o erro amostral, pelo que, em rigor, os dados do desemprego nunca são comparáveis. Dizer-se, por exemplo, que o desemprego baixou 0,1 pontos percentuais com base nas estatísticas é um disparate, porque essa variação e inferior ao erro da amostra. Só grandes e persistentes variações têm significado estatístico.
Quando se necessita absolutamente de eliminar esse tipo de erro, cria-se um painel fixo de entrevistados, mas essa solução tem outros problemas que não vêm para o caso.
É, porém, indisputável que a passagem da sondagem presencial para a telefónica introduz uma perturbação de monta. Tenderá ela a aumentar ou a reduzir a taxa de desemprego? Podemos sabê-lo olhando para o que aconteceu noutros países quando operaram alterações semelhantes. Eu não sei, mas o INE decerto saberá, e seria bom que nos informasse.
As alterações de metodologia estatística são o pesadelo dos historiadores económicos, pois que, ao introduzirem rupturas nas séries económicas, dificultam a sua interpretação. Mas, na esmagadora maioria dos casos, melhoram a qualidade dos dados e reduzem o custo da recolha. Os que lamentam a adopção de padrões mais próximos dos utilizados nos restantes países da UE também devem ter chorado a troca do burro pelo automóvel.
Duma coisa podemos estar certos: se acaso a primeira sondagem conduzida com a nova metodologia gerar uma taxa de desemprego superior, os jornalistas vão achar que, afinal, os dados sempre são comparáveis.
Até já estou daqui a ver os títulos: "Desemprego aumenta apesar de Sócrates ter alterado metodologia de cálculo."
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1 comentário:
Estranho mesmo é o facto de não se sobreporem os dois métodos durante o tempo necessário para comparar as duas séries de dados.
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