10.6.05

A Europa: história breve de uma utopia milenar

De Carlos Magno para cá, foram muitas e de variada felicidade as tentativas de promover a unificação europeia mais ou menos inspiradas no já longínquo paraíso perdido da pax romana.

As peculiaridades históricas resultantes da nossa marginalidade geográfica mantiveram-nos quase sempre à distância dessas movimentações, com excepção dos 60 anos em que fizémos parte do Império Espanhol.

Não é de estranhar, pois, que a maioria dos portugueses, incluindo alguns historiadores profissionais como Vasco Pulido Valente, acreditem que o ideal da Europa unida é uma coisa muito recente inventada logo a seguir à 2ª Guerra Mundial.

O conhecimento da história europeia deve inspirar-nos algum cepticismo (mas não forçosamente pessimismo) em relação ao projecto da Europa Unida. Ao fim e ao cabo, ele já foi tentado várias vezes no passado, mas acabou sempre, mais tarde ou mais cedo, por ser interrompido e forçado a recuar.

Mesmo nós, portugueses, devemos ter presente que, no tempo dos Filipes, fizémos parte de uma «Europa Unida» durante 60 anos, ao passo que, agora, ainda só levamos 19 anos de União Europeia.

É por isso que, cá para mim, a doutrina do aprofundamento contínuo e ilimitado da união política europeia me cheira a wishful thinking. Não tem que ser necessariamente assim, ou pelo menos, não é sensato definir essa meta. Pode ser que sim, mas também pode ser que não.

O problema, porém, é que, a partir do momento em que se aprovou o tratado de Maastricht, se instituíu o Mercado Único e se lançou a Moeda Única, não restam senão duas alternativas: ou a União Europeia adopta algumas estruturas típicas de um Estado federal; ou então, pura e simplesmente, os estados que a integram deixam de ser verdadeiras democracias, dado que um número significativo de decisões cruciais para a vida de todos nós são tomadas por órgãos não submetidas ao controlo democrático.

É esse o dilema fundamental com que hoje nos defrontamos.

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