3.6.05

A sagrada hipérbole

A Europa está abalada. A Europa está paralisada. A Europa está em estado de choque. A Europa está à beira do precipício. A Europa mergulha na recessão. A Europa vai regredir. A Europa ameaça desfazer-se. A Europa está à beira do suicídio. A Europa é odiada pelos povos. A Europa não tem futuro. A Europa vai dissolver-se a breve trecho. A Europa acabou. A Europa é uma ficção. A Europa nunca existiu.

Na competição pelo disparate, em que cada comentador procura ultrapassar o anterior carregando ainda mais os traços negros de uma situação que não entende e que, no fundo, não lhe importa, o que manifestamente diferencia a imprensa portuguesa da europeia é a insensatez e a grandiloquência dos propósitos expressos.

Porém, faltava-nos ainda escutar o parecer do histérico-mor do reino, o qual, batendo o seu record pessoal de aspas, dispara hoje furiosamente no Público:

«A 'Europa' não passa de uma 'construção utópica', inventada à revelia do eleitorado, por uma burocracia perversa e uma 'classe política' irresponsável. Era de esperar que, se as coisas dessem para o torto, se começasse a desfazer.»

A Europa que se cuide. Com tipos como este é que ela não faz farinha!

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