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Paul Signac: La Calanque.
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30.6.09
Abstenções
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Extractos da entrevista de Adriano Moreira publicada no Diário Económico de ontem:
"Neste momento o que está a acontecer é o despertar da sociedade irresponsável. E isso é mais inquietante do que a acção que pode ter o poder, porque há uma espécie de afastamento da sociedade que se manifesta na abstenção."
"A abstenção revela uma demissão da responsabilidade social."
"Este é um fenómeno global, básico: a sociedade deve ser responsabilizada. Ir votar é ser chamado à responsabilidade e a abstenção é uma renúncia a essas responsabilidades."
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Extractos da entrevista de Adriano Moreira publicada no Diário Económico de ontem:
"Neste momento o que está a acontecer é o despertar da sociedade irresponsável. E isso é mais inquietante do que a acção que pode ter o poder, porque há uma espécie de afastamento da sociedade que se manifesta na abstenção."
"A abstenção revela uma demissão da responsabilidade social."
"Este é um fenómeno global, básico: a sociedade deve ser responsabilizada. Ir votar é ser chamado à responsabilidade e a abstenção é uma renúncia a essas responsabilidades."
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29.6.09
O abalozinho, últimas notícias
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Uma crise como a actual não tem uma única causa, tem muitas.
Para percebermos o que poderá acontecer daqui para a frente, porém, basta olhar para os actuais desequilíbrios financeiros internacionais. Nos últimos anos, um pequeno grupo de países (China, Japão e Alemanha) acumulou poupanças colossais, as quais financiaram níveis igualmente enormes de despesa em muitos outros países.
É hoje claro que este desequilíbrio não pode persistir porque os consumidores e as empresas que se endividaram entendem que a situação atingiu os limites. Por isso, estamos a assistir a um rapidíssimo aumento da poupança na generalidade dos países devedores, com reflexos imediatos na queda das suas importações.
A longo prazo isto é indubitavelmente bom. Porém, se a procura cair a pique nos EUA e num bom número de países da UE, o Mundo poderá mergulhar numa recessão profunda e duradoura, geradora de desemprego e miséria numa escala a que já não estamos habituados.
A melhor forma de o evitar seria a China, o Japão e a Alemanha reduzirem a poupança e o seu excedente comercial. A China e o Japão parecem estar a fazer isso mesmo, embora com relutância.
Surpreendementemente, a Alemanha, cuja política económica tem repercussões mais directas sobre a conjuntura europeia em geral, e portuguesa em particular, recusa-se a cooperar. Em vez de, como seria racional, expandir a procura interna, o governo alemão pretende sair da crise pela via do crescimento das exportações. Pior ainda, comprometeu-se com a aprovação de uma regra constitucional que proibe a existência de défices orçamentais, o que equivale a fechar o cofre e deitar fora a chave.
Angela Merkel esquece-se que, para vender Mercedes, é preciso que alguém compre Mercedes. A Alemanha optou por uma via neo-mercantilista que faz do excedente comercial um valor absoluto, independentemente de quaisquer outras circunstâncias.
O resultado será desastroso para a Alemanha e para a União Europeia. Não tardará muito até tornar-se evidente como é absurda a descoordenação da política económica europeia que se instalou. Tudo indica que, graças à clarividência de Barroso e seus amigos, podemos contar com um recessão profunda e prolongada.
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Uma crise como a actual não tem uma única causa, tem muitas.
Para percebermos o que poderá acontecer daqui para a frente, porém, basta olhar para os actuais desequilíbrios financeiros internacionais. Nos últimos anos, um pequeno grupo de países (China, Japão e Alemanha) acumulou poupanças colossais, as quais financiaram níveis igualmente enormes de despesa em muitos outros países.
É hoje claro que este desequilíbrio não pode persistir porque os consumidores e as empresas que se endividaram entendem que a situação atingiu os limites. Por isso, estamos a assistir a um rapidíssimo aumento da poupança na generalidade dos países devedores, com reflexos imediatos na queda das suas importações.
A longo prazo isto é indubitavelmente bom. Porém, se a procura cair a pique nos EUA e num bom número de países da UE, o Mundo poderá mergulhar numa recessão profunda e duradoura, geradora de desemprego e miséria numa escala a que já não estamos habituados.
A melhor forma de o evitar seria a China, o Japão e a Alemanha reduzirem a poupança e o seu excedente comercial. A China e o Japão parecem estar a fazer isso mesmo, embora com relutância.
Surpreendementemente, a Alemanha, cuja política económica tem repercussões mais directas sobre a conjuntura europeia em geral, e portuguesa em particular, recusa-se a cooperar. Em vez de, como seria racional, expandir a procura interna, o governo alemão pretende sair da crise pela via do crescimento das exportações. Pior ainda, comprometeu-se com a aprovação de uma regra constitucional que proibe a existência de défices orçamentais, o que equivale a fechar o cofre e deitar fora a chave.
Angela Merkel esquece-se que, para vender Mercedes, é preciso que alguém compre Mercedes. A Alemanha optou por uma via neo-mercantilista que faz do excedente comercial um valor absoluto, independentemente de quaisquer outras circunstâncias.
O resultado será desastroso para a Alemanha e para a União Europeia. Não tardará muito até tornar-se evidente como é absurda a descoordenação da política económica europeia que se instalou. Tudo indica que, graças à clarividência de Barroso e seus amigos, podemos contar com um recessão profunda e prolongada.
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Armadilhas
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Paul Samuelson criticou numa recente entrevista à Atlantic o modo como evoluíu nas últimas décadas o ensino da macroeconomia.
Fez nessa ocasião notar que se tornou corrente os manuais não mencionarem sequer a "armadilha da liquidez", e referiu que uma edição do de Greg Mankiw (possivelmente o mais usado na actualidade) que consultou não incluía sequer a expressão no índice temático.
Mankiw, qua anda um bocado picado por causa deste tipo de críticas, respondeu-lhe que, nas edições mais recentes (a 5ª e a 6ª)do seu livro o tema é abordado, e que, na última, até figura no tal índice. Logo, a observação de Samuelson não é inteiramente correcta.
A questão, porém, não é essa, mas antes como foi possível que um conceito central da teoria keynesiana fosse retirado do cânone ensinado a gerações de economistas desde os anos 80 para cá. Note-se que Mankiw, um keynesiano politicamente alinhado com os republicanos, nem sequer é um dos casos mais flagrantes de viés ideológico.
A história da evolução da teoria económica nas últimas décadas foi a do progressivo abandono do keynesianismo e reversão da ciência ao estado em que ela se encontrava no tempo de Pigou. No fundo, trata-se de questionar a autonomia e necessidade da macroeconomia e de considerar que só a teoria microeconómica é boa ciência da economia. Isso seria perfeitamente aceitável, claro está, se as ideias de Keynes tivessem sido substituídas por algo melhor.
Em vez disso, o seu lugar foi tomado pela teoria das "expectativas racionais", a qual sustenta que, na ausência de interferência estatal, os mercados se ajustam de forma perfeita e rápida em resposta a choques externos de qualquer tipo. Por outras palavras, o sistema de mercados livres produz sempre e em quaisquer circunstâncias o melhor resultado possível. Logo, as crises têm necessariamente origem fora do sistema económico, nunca dentro dele.
A coisa extraordinária é que, embora destituída de fundamentação empírica, essa reformulação da teoria clássica foi prontamente adoptada pela academia um pouco por todo o Mundo e imposta a gerações de estudantes como única e indiscutível verdade.
Quem leu a Teoria Geral, sabe que a crítica de Keynes se dirigiu antes de mais à lei de Say, segundo a qual, visto que a oferta gera a sua própria procura, os mercados tendem sempre naturalmente a ajustar-se. A principal contribuição de Keynes consistiu em demonstrar a falácia desse raciocínio, demonstração em que, precisamente, desempenha um papel central a possibilidade da armadilha da liquidez, isto é, de uma situação em que, face ao risco percebido, a preferência das famílias e das empresas pela detenção de dinheiro líquido ameaça paralizar a economia.
Foi o que sucedeu na Grande Depressão e é o que pode voltar a suceder se aqueles a quem cabe a condução da política económica deixarem cegar-se por preconceitos ideológicos do género daqueles que assentaram arraiais nas universidades.
Por isso, se alguém invocar a sua condição de professor de economista para nos dar conselhos, verifiquem primeiro que tipo de coisas andou ele a ensinar aos seus alunos nos últimos anos.
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Paul Samuelson criticou numa recente entrevista à Atlantic o modo como evoluíu nas últimas décadas o ensino da macroeconomia.
Fez nessa ocasião notar que se tornou corrente os manuais não mencionarem sequer a "armadilha da liquidez", e referiu que uma edição do de Greg Mankiw (possivelmente o mais usado na actualidade) que consultou não incluía sequer a expressão no índice temático.
Mankiw, qua anda um bocado picado por causa deste tipo de críticas, respondeu-lhe que, nas edições mais recentes (a 5ª e a 6ª)do seu livro o tema é abordado, e que, na última, até figura no tal índice. Logo, a observação de Samuelson não é inteiramente correcta.
A questão, porém, não é essa, mas antes como foi possível que um conceito central da teoria keynesiana fosse retirado do cânone ensinado a gerações de economistas desde os anos 80 para cá. Note-se que Mankiw, um keynesiano politicamente alinhado com os republicanos, nem sequer é um dos casos mais flagrantes de viés ideológico.
A história da evolução da teoria económica nas últimas décadas foi a do progressivo abandono do keynesianismo e reversão da ciência ao estado em que ela se encontrava no tempo de Pigou. No fundo, trata-se de questionar a autonomia e necessidade da macroeconomia e de considerar que só a teoria microeconómica é boa ciência da economia. Isso seria perfeitamente aceitável, claro está, se as ideias de Keynes tivessem sido substituídas por algo melhor.
Em vez disso, o seu lugar foi tomado pela teoria das "expectativas racionais", a qual sustenta que, na ausência de interferência estatal, os mercados se ajustam de forma perfeita e rápida em resposta a choques externos de qualquer tipo. Por outras palavras, o sistema de mercados livres produz sempre e em quaisquer circunstâncias o melhor resultado possível. Logo, as crises têm necessariamente origem fora do sistema económico, nunca dentro dele.
A coisa extraordinária é que, embora destituída de fundamentação empírica, essa reformulação da teoria clássica foi prontamente adoptada pela academia um pouco por todo o Mundo e imposta a gerações de estudantes como única e indiscutível verdade.
Quem leu a Teoria Geral, sabe que a crítica de Keynes se dirigiu antes de mais à lei de Say, segundo a qual, visto que a oferta gera a sua própria procura, os mercados tendem sempre naturalmente a ajustar-se. A principal contribuição de Keynes consistiu em demonstrar a falácia desse raciocínio, demonstração em que, precisamente, desempenha um papel central a possibilidade da armadilha da liquidez, isto é, de uma situação em que, face ao risco percebido, a preferência das famílias e das empresas pela detenção de dinheiro líquido ameaça paralizar a economia.
Foi o que sucedeu na Grande Depressão e é o que pode voltar a suceder se aqueles a quem cabe a condução da política económica deixarem cegar-se por preconceitos ideológicos do género daqueles que assentaram arraiais nas universidades.
Por isso, se alguém invocar a sua condição de professor de economista para nos dar conselhos, verifiquem primeiro que tipo de coisas andou ele a ensinar aos seus alunos nos últimos anos.
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28.6.09
Ignorância generalizada
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O Paul Krugman anda há meses a batalhar nisto:
Não, o acréscimo do investimento público não conduz ao aumento da taxa de juro numa situação como a actual, em que a poupança das empresas e das famílias cresceu bruscamente como reacção à percepção de risco acrescido dos agentes económicos.
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O Paul Krugman anda há meses a batalhar nisto:
"Even in macroeconomics, you could build a career without ever understanding what Keynes and Hicks were driving at — and if you’re under a certain age, perhaps without even ever having heard about it. Arguments like “deficits drive up interest rates and that’s contractionary” basically have the feel of someone who doesn’t have any sense of how the pieces fit together — probably because they don’t."Eis algo que, por exemplo, os subscritores do Manifesto dos 28 ignoram, já para não falar da multidão dos comentadores e jornalistas que se permitem debitar palpites sobre o assunto.
Não, o acréscimo do investimento público não conduz ao aumento da taxa de juro numa situação como a actual, em que a poupança das empresas e das famílias cresceu bruscamente como reacção à percepção de risco acrescido dos agentes económicos.
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27.6.09
O debate deve ser centrado em prioridades: só com emprego se pode reconstruir a economia
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Estamos a atravessar uma das mais severas crises económicas globais de sempre. Na sua origem está uma combinação letal de desigualdades, de especulação financeira, de mercados mal regulados e de escassa capacidade política. A contracção da procura é agora geral e o que parece racional para cada agente económico privado – como seja adiar investimentos porque o futuro é incerto, ou dificultar o acesso ao crédito, porque a confiança escasseia – tende a gerar um resultado global desastroso.
É por isso imprescindível definir claramente as prioridades. Em Portugal, como aliás por toda a Europa e por todo o mundo, o combate ao desemprego tem de ser o objectivo central da política económica. Uma taxa de desemprego de 10% é o sinal de uma economia falhada, que custa a Portugal cerca de 21 mil milhões de euros por ano – a capacidade de produção que é desperdiçada, mais a despesa em custos de protecção social. Em cada ano, perde-se assim mais do que o total das despesas previstas para todas as grandes obras públicas nos próximos quinze anos. O desemprego é o problema. Esquecer esta dimensão é obscurecer o essencial e subestimar gravemente os riscos de uma crise social dramática.
A crise global exige responsabilidade a todos os que intervêm na esfera pública. Assim, respondemos a esta ameaça de deflação e de depressão propondo um vigoroso estímulo contracíclico, coordenado à escala europeia e global, que só pode partir dos poderes públicos. Recusamos qualquer política de facilidade ou qualquer repetição dos erros anteriores. É necessária uma nova política económica e financeira.
Nesse sentido, para além da intervenção reguladora no sistema financeiro, a estratégia pública mais eficaz assenta numa política orçamental que assuma o papel positivo da despesa e sobretudo do investimento, única forma de garantir que a procura é dinamizada e que os impactos sociais desfavoráveis da crise são minimizados. Os recursos públicos devem ser prioritariamente canalizados para projectos com impactos favoráveis no emprego, no ambiente e no reforço da coesão territorial e social: reabilitação do parque habitacional, expansão da utilização de energias renováveis, modernização da rede eléctrica, projectos de investimento em infra-estruturas de transporte úteis, com destaque para a rede ferroviária, investimentos na protecção social que combatam a pobreza e que promovam a melhoria dos serviços públicos essenciais como saúde, justiça e educação.
Desta forma, os recursos públicos servirão não só para contrariar a quebra conjuntural da procura privada, mas também abrirão um caminho para o futuro: melhores infra-estruturas e capacidades humanas, um território mais coeso e competitivo, capaz de suportar iniciativas inovadoras na área da produção de bens transaccionáveis.
Dizemo-lo com clareza porque sabemos que as dúvidas, pertinentes ou não, acerca de alguns grandes projectos podem ser instrumentalizadas para defender que o investimento público nunca é mais do que um fardo incomportável que irá recair sobre as gerações vindouras. Trata-se naturalmente de uma opinião contestável e que reflecte uma escolha político-ideológica que ganharia em ser assumida como tal, em vez de se apresentar como uma sobranceira visão definitiva, destinada a impor à sociedade uma noção unilateral e pretensamente científica.
Ao contrário dos que pretendem limitar as opções, e em nome do direito ao debate e à expressão do contraditório, parece-nos claro que as economias não podem sair espontaneamente da crise sem causar devastação económica e sofrimento social evitáveis e um lastro negativo de destruição das capacidades humanas, por via do desemprego e da fragmentação social. Consideramos que é precisamente em nome das gerações vindouras que temos de exigir um esforço internacional para sair da crise e desenvolver uma política de pleno emprego. Uma economia e uma sociedade estagnadas não serão, certamente, fonte de oportunidades futuras.
A pretexto dos desequilíbrios externos da economia portuguesa, dizem-nos que devemos esperar que a retoma venha de fora através de um aumento da procura dirigida às exportações. Propõe-se assim uma atitude passiva que corre o risco de se generalizar entre os governos, prolongando o colapso em curso das relações económicas internacionais, e mantendo em todo o caso a posição periférica da economia portuguesa.
Ora, é preciso não esquecer que as exportações de uns são sempre importações de outros. Por isso, temos de pensar sobre os nossos problemas no quadro europeu e global onde nos inserimos. A competitividade futura da economia portuguesa depende também da adopção, pelo menos à escala europeia, de mecanismos de correcção dos desequilíbrios comerciais sistemáticos de que temos sido vítimas.
Julgamos que não é possível neste momento enfrentar os problemas da economia portuguesa sem dar prioridade à resposta às dinâmicas recessivas de destruição de emprego. Esta intervenção, que passa pelo investimento público económica e socialmente útil, tem de se inscrever num movimento mais vasto de mudança das estruturas económicas que geraram a actual crise. Para isso, é indispensável uma nova abordagem da restrição orçamental europeia que seja contracíclica e que promova a convergência regional.
O governo português deve então exigir uma resposta muito mais coordenada por parte da União Europeia e dar mostras de disponibilidade para participar no esforço colectivo. Isto vale tanto para as políticas destinadas a debelar a crise como para o esforço de regulação dos fluxos económicos que é imprescindível para que ela não se repita. Precisamos de mais Europa e menos passividade no combate à crise.
Por isso, como cidadãos de diversas sensibilidades, apelamos à opinião pública para que seja exigente na escolha de respostas a esta recessão, para evitar que o sofrimento social se prolongue.
Manuel Brandão Alves, Economista, Professor Catedrático, ISEG; Carlos Bastien, Economista, Professor Associado, ISEG; Jorge Bateira, Economista, doutorando, Universidade de Manchester; Manuel Branco, Economista, Professor Associado, Universidade de Évora; João Castro Caldas, Engenheiro Agrónomo, Professor Catedrático, Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural do Instituto Superior de Agronomia; José Castro Caldas, Economista, Investigador, Centro de Estudos Sociais; Luis Francisco Carvalho, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; João Pinto e Castro, Economista e Gestor; Ana Narciso Costa, Economista, Professora Auxiliar, ISCTE-IUL; Pedro Costa, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; Artur Cristóvão, Professor Catedrático, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; Álvaro Domingues, Geógrafo, Professor Associado, Faculdade da Arquitectura da Universidade do Porto; Paulo Areosa Feio, Geógrafo, Dirigente da Administração Pública; Fátima Ferreiro, Professora Auxiliar, Departamento de Economia, ISCTE-IUL; Carlos Figueiredo, Economista; Carlos Fortuna, Sociólogo, Professor Catedrático, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; André Freire, Politólogo, Professor Auxiliar, ISCTE; João Galamba, Economista, doutorando em filosofia, FCSH-UNL; Jorge Gaspar, Geógrafo, Professor Catedrático, Universidade de Lisboa; Isabel Carvalho Guerra, Socióloga, Professora Catedrática; João Guerreiro, Economista, Professor Catedrático, Universidade do Algarve; José Manuel Henriques, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; Pedro Hespanha, Sociólogo, Professor Associado, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; João Leão, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; António Simões Lopes, Economista, Professor Catedrático, ISEG; Margarida Chagas Lopes, Economista, Professora Auxiliar, ISEG; Raul Lopes, Economista, Professor Associado, ISCTE-IUL; Francisco Louçã, Economista, Professor Catedrático, ISEG; Ricardo Paes Mamede, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; Tiago Mata, Historiador e Economista, Universidade de Amesterdão; Manuel Belo Moreira, Engenheiro Agrónomo, Professor Catedrático, Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural, Instituto Superior de Agronomia; Mário Murteira, Economista, Professor Emérito, ISCTE- IUL; Vitor Neves, Economista, Professor Auxiliar, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; José Penedos, Gestor; Tiago Santos Pereira, Investigador, Centro de Estudos Sociais; Adriano Pimpão, Economista, Professor Catedrático, Universidade do Algarve; Alexandre Azevedo Pinto, Economista, Investigador, Faculdade de Economia da Universidade do Porto; Margarida Proença, Economista, Professora Catedrática, Escola de Economia e Gestão, Universidade do Minho; José Reis, Economista, Professor Catedrático, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; João Rodrigues, Economista, doutorando, Universidade de Manchester; José Manuel Rolo, Economista, Investigador, Instituto de Ciências Sociais; António Romão, Economista, Professor Catedrático, ISEG-UTL; Ana Cordeiro Santos, Economista, Investigadora, Centro de Estudos Sociais; Boaventura de Sousa Santos, Sociólogo, Professor Catedrático, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; Carlos Santos, Economista, Professor Auxiliar, Universidade Católica Portuguesa; Pedro Nuno Santos, Economista; Mário Rui Silva, Economista, Professor Associado, Faculdade de Economia do Porto; Pedro Adão e Silva, Politólogo, ISCTE; Nuno Teles, Economista, doutorando, School of Oriental and African Studies, Universidade de Londres; João Tolda, Economista, Professor Auxiliar, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; Jorge Vala, Psicólogo Social, Investigador; Mário Vale, Geógrafo, Professor Associado, Universidade de Lisboa.
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Estamos a atravessar uma das mais severas crises económicas globais de sempre. Na sua origem está uma combinação letal de desigualdades, de especulação financeira, de mercados mal regulados e de escassa capacidade política. A contracção da procura é agora geral e o que parece racional para cada agente económico privado – como seja adiar investimentos porque o futuro é incerto, ou dificultar o acesso ao crédito, porque a confiança escasseia – tende a gerar um resultado global desastroso.
É por isso imprescindível definir claramente as prioridades. Em Portugal, como aliás por toda a Europa e por todo o mundo, o combate ao desemprego tem de ser o objectivo central da política económica. Uma taxa de desemprego de 10% é o sinal de uma economia falhada, que custa a Portugal cerca de 21 mil milhões de euros por ano – a capacidade de produção que é desperdiçada, mais a despesa em custos de protecção social. Em cada ano, perde-se assim mais do que o total das despesas previstas para todas as grandes obras públicas nos próximos quinze anos. O desemprego é o problema. Esquecer esta dimensão é obscurecer o essencial e subestimar gravemente os riscos de uma crise social dramática.
A crise global exige responsabilidade a todos os que intervêm na esfera pública. Assim, respondemos a esta ameaça de deflação e de depressão propondo um vigoroso estímulo contracíclico, coordenado à escala europeia e global, que só pode partir dos poderes públicos. Recusamos qualquer política de facilidade ou qualquer repetição dos erros anteriores. É necessária uma nova política económica e financeira.
Nesse sentido, para além da intervenção reguladora no sistema financeiro, a estratégia pública mais eficaz assenta numa política orçamental que assuma o papel positivo da despesa e sobretudo do investimento, única forma de garantir que a procura é dinamizada e que os impactos sociais desfavoráveis da crise são minimizados. Os recursos públicos devem ser prioritariamente canalizados para projectos com impactos favoráveis no emprego, no ambiente e no reforço da coesão territorial e social: reabilitação do parque habitacional, expansão da utilização de energias renováveis, modernização da rede eléctrica, projectos de investimento em infra-estruturas de transporte úteis, com destaque para a rede ferroviária, investimentos na protecção social que combatam a pobreza e que promovam a melhoria dos serviços públicos essenciais como saúde, justiça e educação.
Desta forma, os recursos públicos servirão não só para contrariar a quebra conjuntural da procura privada, mas também abrirão um caminho para o futuro: melhores infra-estruturas e capacidades humanas, um território mais coeso e competitivo, capaz de suportar iniciativas inovadoras na área da produção de bens transaccionáveis.
Dizemo-lo com clareza porque sabemos que as dúvidas, pertinentes ou não, acerca de alguns grandes projectos podem ser instrumentalizadas para defender que o investimento público nunca é mais do que um fardo incomportável que irá recair sobre as gerações vindouras. Trata-se naturalmente de uma opinião contestável e que reflecte uma escolha político-ideológica que ganharia em ser assumida como tal, em vez de se apresentar como uma sobranceira visão definitiva, destinada a impor à sociedade uma noção unilateral e pretensamente científica.
Ao contrário dos que pretendem limitar as opções, e em nome do direito ao debate e à expressão do contraditório, parece-nos claro que as economias não podem sair espontaneamente da crise sem causar devastação económica e sofrimento social evitáveis e um lastro negativo de destruição das capacidades humanas, por via do desemprego e da fragmentação social. Consideramos que é precisamente em nome das gerações vindouras que temos de exigir um esforço internacional para sair da crise e desenvolver uma política de pleno emprego. Uma economia e uma sociedade estagnadas não serão, certamente, fonte de oportunidades futuras.
A pretexto dos desequilíbrios externos da economia portuguesa, dizem-nos que devemos esperar que a retoma venha de fora através de um aumento da procura dirigida às exportações. Propõe-se assim uma atitude passiva que corre o risco de se generalizar entre os governos, prolongando o colapso em curso das relações económicas internacionais, e mantendo em todo o caso a posição periférica da economia portuguesa.
Ora, é preciso não esquecer que as exportações de uns são sempre importações de outros. Por isso, temos de pensar sobre os nossos problemas no quadro europeu e global onde nos inserimos. A competitividade futura da economia portuguesa depende também da adopção, pelo menos à escala europeia, de mecanismos de correcção dos desequilíbrios comerciais sistemáticos de que temos sido vítimas.
Julgamos que não é possível neste momento enfrentar os problemas da economia portuguesa sem dar prioridade à resposta às dinâmicas recessivas de destruição de emprego. Esta intervenção, que passa pelo investimento público económica e socialmente útil, tem de se inscrever num movimento mais vasto de mudança das estruturas económicas que geraram a actual crise. Para isso, é indispensável uma nova abordagem da restrição orçamental europeia que seja contracíclica e que promova a convergência regional.
O governo português deve então exigir uma resposta muito mais coordenada por parte da União Europeia e dar mostras de disponibilidade para participar no esforço colectivo. Isto vale tanto para as políticas destinadas a debelar a crise como para o esforço de regulação dos fluxos económicos que é imprescindível para que ela não se repita. Precisamos de mais Europa e menos passividade no combate à crise.
Por isso, como cidadãos de diversas sensibilidades, apelamos à opinião pública para que seja exigente na escolha de respostas a esta recessão, para evitar que o sofrimento social se prolongue.
Manuel Brandão Alves, Economista, Professor Catedrático, ISEG; Carlos Bastien, Economista, Professor Associado, ISEG; Jorge Bateira, Economista, doutorando, Universidade de Manchester; Manuel Branco, Economista, Professor Associado, Universidade de Évora; João Castro Caldas, Engenheiro Agrónomo, Professor Catedrático, Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural do Instituto Superior de Agronomia; José Castro Caldas, Economista, Investigador, Centro de Estudos Sociais; Luis Francisco Carvalho, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; João Pinto e Castro, Economista e Gestor; Ana Narciso Costa, Economista, Professora Auxiliar, ISCTE-IUL; Pedro Costa, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; Artur Cristóvão, Professor Catedrático, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro; Álvaro Domingues, Geógrafo, Professor Associado, Faculdade da Arquitectura da Universidade do Porto; Paulo Areosa Feio, Geógrafo, Dirigente da Administração Pública; Fátima Ferreiro, Professora Auxiliar, Departamento de Economia, ISCTE-IUL; Carlos Figueiredo, Economista; Carlos Fortuna, Sociólogo, Professor Catedrático, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; André Freire, Politólogo, Professor Auxiliar, ISCTE; João Galamba, Economista, doutorando em filosofia, FCSH-UNL; Jorge Gaspar, Geógrafo, Professor Catedrático, Universidade de Lisboa; Isabel Carvalho Guerra, Socióloga, Professora Catedrática; João Guerreiro, Economista, Professor Catedrático, Universidade do Algarve; José Manuel Henriques, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; Pedro Hespanha, Sociólogo, Professor Associado, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; João Leão, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; António Simões Lopes, Economista, Professor Catedrático, ISEG; Margarida Chagas Lopes, Economista, Professora Auxiliar, ISEG; Raul Lopes, Economista, Professor Associado, ISCTE-IUL; Francisco Louçã, Economista, Professor Catedrático, ISEG; Ricardo Paes Mamede, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL; Tiago Mata, Historiador e Economista, Universidade de Amesterdão; Manuel Belo Moreira, Engenheiro Agrónomo, Professor Catedrático, Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural, Instituto Superior de Agronomia; Mário Murteira, Economista, Professor Emérito, ISCTE- IUL; Vitor Neves, Economista, Professor Auxiliar, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; José Penedos, Gestor; Tiago Santos Pereira, Investigador, Centro de Estudos Sociais; Adriano Pimpão, Economista, Professor Catedrático, Universidade do Algarve; Alexandre Azevedo Pinto, Economista, Investigador, Faculdade de Economia da Universidade do Porto; Margarida Proença, Economista, Professora Catedrática, Escola de Economia e Gestão, Universidade do Minho; José Reis, Economista, Professor Catedrático, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; João Rodrigues, Economista, doutorando, Universidade de Manchester; José Manuel Rolo, Economista, Investigador, Instituto de Ciências Sociais; António Romão, Economista, Professor Catedrático, ISEG-UTL; Ana Cordeiro Santos, Economista, Investigadora, Centro de Estudos Sociais; Boaventura de Sousa Santos, Sociólogo, Professor Catedrático, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; Carlos Santos, Economista, Professor Auxiliar, Universidade Católica Portuguesa; Pedro Nuno Santos, Economista; Mário Rui Silva, Economista, Professor Associado, Faculdade de Economia do Porto; Pedro Adão e Silva, Politólogo, ISCTE; Nuno Teles, Economista, doutorando, School of Oriental and African Studies, Universidade de Londres; João Tolda, Economista, Professor Auxiliar, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra; Jorge Vala, Psicólogo Social, Investigador; Mário Vale, Geógrafo, Professor Associado, Universidade de Lisboa.
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25.6.09
O corpo ao Manifesto
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Termina assim o meu artigo no Jornal de Negócios de hoje:
"O receio de decidir e agir é um traço de personalidade associado à improdutividade. Os autores do Manifesto justificam a inacção com a necessidade de se pensar melhor sobre o assunto, mas, pela amostra, a qualidade da reflexão também não se recomenda."
Mas o que interessa é o que vem antes.
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Termina assim o meu artigo no Jornal de Negócios de hoje:
"O receio de decidir e agir é um traço de personalidade associado à improdutividade. Os autores do Manifesto justificam a inacção com a necessidade de se pensar melhor sobre o assunto, mas, pela amostra, a qualidade da reflexão também não se recomenda."
Mas o que interessa é o que vem antes.
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22.6.09
A Merkel é maluca
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Artigo alarmado - e não é caso para menos - de Wolfgang Munchau no FT de hoje:
"A decision was taken recently in Berlin to introduce a balanced-budget law in the German constitution. It was a hugely important decision. It may not have received due attention outside Germany given the flood of other economic and financial news. From 2016, it will be illegal for the federal government to run a deficit of more than 0.35 per cent of gross domestic product. From 2020, the federal states will not be allowed to run any deficit at all. Unlike Europe’s stability and growth pact, which was first circumvented, later softened and then ignored, this unilateral constitutional law will stick. I would expect that for the next 20 or 30 years, deficit reduction will be the first, second and third priority of German economic policy."
Esta decisão, tomada unilateralmente pelo maior país da Europa em população e, sobretudo, em peso económico, pode vir a revelar-se fatal para o futuro da União Europeia.
Artigo alarmado - e não é caso para menos - de Wolfgang Munchau no FT de hoje:
"A decision was taken recently in Berlin to introduce a balanced-budget law in the German constitution. It was a hugely important decision. It may not have received due attention outside Germany given the flood of other economic and financial news. From 2016, it will be illegal for the federal government to run a deficit of more than 0.35 per cent of gross domestic product. From 2020, the federal states will not be allowed to run any deficit at all. Unlike Europe’s stability and growth pact, which was first circumvented, later softened and then ignored, this unilateral constitutional law will stick. I would expect that for the next 20 or 30 years, deficit reduction will be the first, second and third priority of German economic policy."
Esta decisão, tomada unilateralmente pelo maior país da Europa em população e, sobretudo, em peso económico, pode vir a revelar-se fatal para o futuro da União Europeia.
Os economistas-problema
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Achei muito certeiro o modo como José Reis caracteriza nos Ladrões de Bicicletas a fragilidade intelectual essencial dos subscritores do manifesto dos não-sei-quantos.
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Achei muito certeiro o modo como José Reis caracteriza nos Ladrões de Bicicletas a fragilidade intelectual essencial dos subscritores do manifesto dos não-sei-quantos.
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Como? O quê? Por quê?
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O Pedro Lains está hoje um mestre da arte do post:
"Saber que não são sobretudo economistas especialistas em crescimento, que estão mais ligados ao PSD, e que parecem assustados com o PS, ajuda. Não é tudo, mas ajuda."
Leiam o resto aqui.
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O Pedro Lains está hoje um mestre da arte do post:
"Saber que não são sobretudo economistas especialistas em crescimento, que estão mais ligados ao PSD, e que parecem assustados com o PS, ajuda. Não é tudo, mas ajuda."
Leiam o resto aqui.
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Coligação para a inacção
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Como se deduz das declarações dos subscritores do manifesto dos 28 nos últimos dias, cada um deles teve as suas razões particulares para subscrever o alegado manifesto.
Assim, de repente, consegui identificar a seguinte tipologia de aderentes:
1. Os que acham que o país não tem dinheiro para investir.
2. Os que desconfiam do poder multiplicador do investimento público.
3. Os que temem que o investimento público esgote as verbas disponíveis para o investimento privado.
4. Os que acham que o investimento público não é a melhor forma de responder à crise.
5. Os que apoiam os pequenos investimentos públicos, mas não os grandes.
6. Os que são contra o novo aeroporto.
7. Os que querem o novo aeroporto noutro sítio.
8. Os que querem o novo aeroporto mas não agora.
9. Os que são genericamente contra o TGV.
10. Os que querem o TGV, mas não agora.
11. Os que querem a ligação por TVG Lisboa-Madrid, mas não Lisboa-Porto.
12. Os que querem a ligação por TGV Lisboa-Porto, mas não Lisboa-Madrid.
13. Os que não querem mais auto-estradas.
14. Os que querem mais auto-estradas, mas não agora.
15. Os que querem mais auto-estradas, mas não estas.
Já chegámos aos 28? Ainda não, nem é preciso, porque os diversos arranjos de opções alternativas encarregam-se de assegurar que cada cabeça tem a sua opinião particular sobre o programa de investimentos públicos em discussão.
O manifesto é um típico exemplo de coligação negativa: um conjunto de pessoas une-se pelas motivações mais díspares para obstaculizar este ou aquele aspecto de uma solução de conjunto que não lhe agrada.
Que fariam estas pessoas, se acaso conquistassem o poder? Nada, evidentemente, visto o entendimento que alcançaram ser insusceptível de sustentar um programa de acção positivo.
A ingovernabilidade torna-se desde logo patente em manifestos deste tipo.
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Como se deduz das declarações dos subscritores do manifesto dos 28 nos últimos dias, cada um deles teve as suas razões particulares para subscrever o alegado manifesto.
Assim, de repente, consegui identificar a seguinte tipologia de aderentes:
1. Os que acham que o país não tem dinheiro para investir.
2. Os que desconfiam do poder multiplicador do investimento público.
3. Os que temem que o investimento público esgote as verbas disponíveis para o investimento privado.
4. Os que acham que o investimento público não é a melhor forma de responder à crise.
5. Os que apoiam os pequenos investimentos públicos, mas não os grandes.
6. Os que são contra o novo aeroporto.
7. Os que querem o novo aeroporto noutro sítio.
8. Os que querem o novo aeroporto mas não agora.
9. Os que são genericamente contra o TGV.
10. Os que querem o TGV, mas não agora.
11. Os que querem a ligação por TVG Lisboa-Madrid, mas não Lisboa-Porto.
12. Os que querem a ligação por TGV Lisboa-Porto, mas não Lisboa-Madrid.
13. Os que não querem mais auto-estradas.
14. Os que querem mais auto-estradas, mas não agora.
15. Os que querem mais auto-estradas, mas não estas.
Já chegámos aos 28? Ainda não, nem é preciso, porque os diversos arranjos de opções alternativas encarregam-se de assegurar que cada cabeça tem a sua opinião particular sobre o programa de investimentos públicos em discussão.
O manifesto é um típico exemplo de coligação negativa: um conjunto de pessoas une-se pelas motivações mais díspares para obstaculizar este ou aquele aspecto de uma solução de conjunto que não lhe agrada.
Que fariam estas pessoas, se acaso conquistassem o poder? Nada, evidentemente, visto o entendimento que alcançaram ser insusceptível de sustentar um programa de acção positivo.
A ingovernabilidade torna-se desde logo patente em manifestos deste tipo.
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"Não há dinheiro para nada"
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Se não há dinheiro para nada, como é que a EDP investiu o ano passado nos EUA cerca de 5 mil milhões de euros na compra de uma empresa de energia solar, uma verba equivalente ao custo estimado do novo aeroporto de Lisboa?
Pelos vistos, as elevadíssimas tarifas de electricidade pagas pelos consumidores e pelas empresas portuguesas geram excedentes suficientes para aventuras megalomanas lá fora, embora escasseie o dinheiro para investir cá dentro.
Podem responder-me que a EDP é uma empresa privada e que, por conseguinte, investe o seu dinheiro onde muito bem entende. Mas não esqueçamos que o Estado português tem uma golden share na EDP, logo não pode alhear-se das políticas de investimento da maior empresa portuguesa, designadamente sempre que são susceptíveis de pôr em causa o equilíbrio financeiro externo do país.
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Se não há dinheiro para nada, como é que a EDP investiu o ano passado nos EUA cerca de 5 mil milhões de euros na compra de uma empresa de energia solar, uma verba equivalente ao custo estimado do novo aeroporto de Lisboa?
Pelos vistos, as elevadíssimas tarifas de electricidade pagas pelos consumidores e pelas empresas portuguesas geram excedentes suficientes para aventuras megalomanas lá fora, embora escasseie o dinheiro para investir cá dentro.
Podem responder-me que a EDP é uma empresa privada e que, por conseguinte, investe o seu dinheiro onde muito bem entende. Mas não esqueçamos que o Estado português tem uma golden share na EDP, logo não pode alhear-se das políticas de investimento da maior empresa portuguesa, designadamente sempre que são susceptíveis de pôr em causa o equilíbrio financeiro externo do país.
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21.6.09
Os nomes e a coisa
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Os subscritores do manifesto dito dos economistas (vários deles não são economistas, e alguns são muito ignorantes do assunto) agiram como aqueles seleccionadores nacionais que compõem uma equipa como quem colecciona os cromos da bola: o que de facto interessa é alinhar nomes sonantes, que a vitória é certa.
O texto propriamente dito é fraquito e incoerente (tratarei dele mais tarde), mas isso também não era relevante. Procurou-se antes de mais apresentar uma galeria de celebridades, nomes sonantes que muitos recordam anos depois de esquecerem o que fizeram enquando ministros, secretários de Estado ou governadores do Banco de Portugal. Da lista constam até alguns que serviram Salazar, mas é evidente que nem o povo o recorda nem isso interessa nada.
Destaca-se a presença de alguns ex-governantes do PS, cuja cooperação com as hostes socialistas apenas confirma o oportunismo de criaturas cujo posicionamento político sempre se situou à direita. Se esperassem mais alguns meses, é bem possível que os organizadores da oportuna iniciativa também conseguissem recolher a assinatura de Manuel Pinho.
Pensando bem, a única pessoa que destoa no quadro geral é Silva Lopes, o qual assim contribuíu para emprestar ao manifesto da nova brigada do reumático uma aparência de seriedade que, de outra forma, nunca teria conseguido. Sem ele, o manifesto não teria metade do impacto que teve.
Lendo as declarações que fez aos media nos últimos dias a propósito do tema, muito pouco sintonizadas com o que se lê no documento, ainda mais estranho me parece que ele tenha subscrito algo que, pelo menos no espírito, tão manifestamente contraria o que tem defendido a vida toda.
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Os subscritores do manifesto dito dos economistas (vários deles não são economistas, e alguns são muito ignorantes do assunto) agiram como aqueles seleccionadores nacionais que compõem uma equipa como quem colecciona os cromos da bola: o que de facto interessa é alinhar nomes sonantes, que a vitória é certa.
O texto propriamente dito é fraquito e incoerente (tratarei dele mais tarde), mas isso também não era relevante. Procurou-se antes de mais apresentar uma galeria de celebridades, nomes sonantes que muitos recordam anos depois de esquecerem o que fizeram enquando ministros, secretários de Estado ou governadores do Banco de Portugal. Da lista constam até alguns que serviram Salazar, mas é evidente que nem o povo o recorda nem isso interessa nada.
Destaca-se a presença de alguns ex-governantes do PS, cuja cooperação com as hostes socialistas apenas confirma o oportunismo de criaturas cujo posicionamento político sempre se situou à direita. Se esperassem mais alguns meses, é bem possível que os organizadores da oportuna iniciativa também conseguissem recolher a assinatura de Manuel Pinho.
Pensando bem, a única pessoa que destoa no quadro geral é Silva Lopes, o qual assim contribuíu para emprestar ao manifesto da nova brigada do reumático uma aparência de seriedade que, de outra forma, nunca teria conseguido. Sem ele, o manifesto não teria metade do impacto que teve.
Lendo as declarações que fez aos media nos últimos dias a propósito do tema, muito pouco sintonizadas com o que se lê no documento, ainda mais estranho me parece que ele tenha subscrito algo que, pelo menos no espírito, tão manifestamente contraria o que tem defendido a vida toda.
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20.6.09
Conselhos preciosos dessa gente maravilhosa que nos conduziu ao desastre
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Uma amostra representativa dos responsáveis económicos e financeiros que levaram ao país à situação em que ele se encontra - sem grandes análises custo-benefício, diga-se - confessa num Manifesto largamente divulgado que não sabe o que deve ser feito para tirá-lo daqui.
O que propõem eles? Que o país reflicta.
Pois eu, retribuindo o conselho, recomendar-lhes-ia que começassem eles mesmos por reflectir sobre os erros inerentes à sua forma de pensar o desenvolvimento económico, que tão desastrosos resultados reve para Portugal. Se possível, como agora é moda, com alguma humildade.
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Uma amostra representativa dos responsáveis económicos e financeiros que levaram ao país à situação em que ele se encontra - sem grandes análises custo-benefício, diga-se - confessa num Manifesto largamente divulgado que não sabe o que deve ser feito para tirá-lo daqui.
O que propõem eles? Que o país reflicta.
Pois eu, retribuindo o conselho, recomendar-lhes-ia que começassem eles mesmos por reflectir sobre os erros inerentes à sua forma de pensar o desenvolvimento económico, que tão desastrosos resultados reve para Portugal. Se possível, como agora é moda, com alguma humildade.
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Noções elementares de responsabilidade
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Quando os próprios admitem que a origem da sua raiva ao Governador do Banco de Portugal remonta à avaliação pouco abonatória do déficite das contas públicas deixado pelo PSD que uma comissão por ele dirigida há uns anos produziu, não serei eu a negar que as motivações da comissão de inquérito parlamentar às falhas da regulação no caso do BPN são políticas e mesquinhas.
De Portas Paulo não se pode esperar, como há 20 anos sabemos, outra coisa senão política suja.
Resta, porém, como facto inquestionável, que o Banco de Portugal fracassou repetidamente na sua responsabilidade fiscalizadora em pelo menos três casos de considerável gravidade. Falo, é claro, do BCP, do BPN e do BPP. É muita falha junta.
Segundo entendo, a defesa de Vítor Constâncio assente na sua essência em três
argumentos:
a) Os efectivos do banco ocupados em fiscalizar o sistema financeiro eram manifestamente insuficientes;
b) A legislação relevante evoluíu sempre nas últimas décadas no sentido de alargar a margem de liberdade dos bancos ao mesmo tempo que dificultava a missão do banco central;
C) O clima ideológico estimulava até há pouco uma exagerada confiança nas capacidades de auto-regulação dos mercados.
O primeiro argumento não descompromete Constâncio, bem pelo contrário, na medida em que ele é o principal responsável pela alocação dos recursos na instituição que dirige.
Os dois outros argumentos tampouco são válidos. Quando aceitou ser indigitado para o lugar que ocupa, Constâncio sabia (ou deveria saber) as condicionantes em que cumpriria as suas funções. Implicitamente, aceitou-as. Ao fazê-lo, assumiu também as consequências e as responsabilidades daí inerentes.
Permanece muito confusa entre nós a distinção entre culpa (seja ela subjectiva ou objectiva) e responsabilidade. Responsabilidade é responder por algo perante alguém e tirar daí todas as consequências.
Constâncio é decerto uma pessoa competentíssima e seriíssima, a quem as coisas correram mal. Paciência, acontece. Altos cargos implicam altas responsabilidades, e a vida é por vezes cruel.
O que não compreendo é que ele não compreenda que, para terminar bem o seu mandato, deveria abandonar agora a presidência do Banco de Portugal. Caso não o faça, pergunto-me o que significará para ele a palavra "responsabilidade".
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Quando os próprios admitem que a origem da sua raiva ao Governador do Banco de Portugal remonta à avaliação pouco abonatória do déficite das contas públicas deixado pelo PSD que uma comissão por ele dirigida há uns anos produziu, não serei eu a negar que as motivações da comissão de inquérito parlamentar às falhas da regulação no caso do BPN são políticas e mesquinhas.
De Portas Paulo não se pode esperar, como há 20 anos sabemos, outra coisa senão política suja.
Resta, porém, como facto inquestionável, que o Banco de Portugal fracassou repetidamente na sua responsabilidade fiscalizadora em pelo menos três casos de considerável gravidade. Falo, é claro, do BCP, do BPN e do BPP. É muita falha junta.
Segundo entendo, a defesa de Vítor Constâncio assente na sua essência em três
argumentos:
a) Os efectivos do banco ocupados em fiscalizar o sistema financeiro eram manifestamente insuficientes;
b) A legislação relevante evoluíu sempre nas últimas décadas no sentido de alargar a margem de liberdade dos bancos ao mesmo tempo que dificultava a missão do banco central;
C) O clima ideológico estimulava até há pouco uma exagerada confiança nas capacidades de auto-regulação dos mercados.
O primeiro argumento não descompromete Constâncio, bem pelo contrário, na medida em que ele é o principal responsável pela alocação dos recursos na instituição que dirige.
Os dois outros argumentos tampouco são válidos. Quando aceitou ser indigitado para o lugar que ocupa, Constâncio sabia (ou deveria saber) as condicionantes em que cumpriria as suas funções. Implicitamente, aceitou-as. Ao fazê-lo, assumiu também as consequências e as responsabilidades daí inerentes.
Permanece muito confusa entre nós a distinção entre culpa (seja ela subjectiva ou objectiva) e responsabilidade. Responsabilidade é responder por algo perante alguém e tirar daí todas as consequências.
Constâncio é decerto uma pessoa competentíssima e seriíssima, a quem as coisas correram mal. Paciência, acontece. Altos cargos implicam altas responsabilidades, e a vida é por vezes cruel.
O que não compreendo é que ele não compreenda que, para terminar bem o seu mandato, deveria abandonar agora a presidência do Banco de Portugal. Caso não o faça, pergunto-me o que significará para ele a palavra "responsabilidade".
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19.6.09
O liberalismo bom
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Se a maioria das pessoas acredita que a economia de mercado funciona razoavelmente, então torna-se possível liberalizar as trocas comerciais e internacionalizar as economias.
O aprofundamento da União Europeia assentou nessa crença, visto ela implicar que todos os países, e não só os mais poderosos, teriam a ganhar com a eliminação das barreiras ao comércio intra-europeu.
Se acreditarmos que o mercado produz automaticamente níveis crescentes de bem-estar, não haverá razão para que os países individualmente considerados se ponham a apoiar esta ou aquela actividade económica particular.
Tudo começa a funcionar ao contrário quando se instala a desconfiança na economia de mercado. A urgência de uma intervenção estatal para salvar a economia ocorreu primeiro no sector financeiro, mas rapidamente alastrou a várias indústrias, desde logo à automóvel.
Ora, se os estados começam a apoiar as "suas" empresas, cai pela base o fundamento do comércio livre e cada vez mais gente começa a acreditar que o Mercado Único Europeu é uma armadilha para tolos. O poder dos maiores estados sobrepõe-se decisivamente ao dos pequenos, sem capacidade política ou económica para fazerem valer os seus interesses.
Caso se instale, a desconfiança no funcionamento do mercado conduzirá inexoravelmente à ruína do comércio livre e, por decorrência, à ruína da União Europeia.
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Se a maioria das pessoas acredita que a economia de mercado funciona razoavelmente, então torna-se possível liberalizar as trocas comerciais e internacionalizar as economias.
O aprofundamento da União Europeia assentou nessa crença, visto ela implicar que todos os países, e não só os mais poderosos, teriam a ganhar com a eliminação das barreiras ao comércio intra-europeu.
Se acreditarmos que o mercado produz automaticamente níveis crescentes de bem-estar, não haverá razão para que os países individualmente considerados se ponham a apoiar esta ou aquela actividade económica particular.
Tudo começa a funcionar ao contrário quando se instala a desconfiança na economia de mercado. A urgência de uma intervenção estatal para salvar a economia ocorreu primeiro no sector financeiro, mas rapidamente alastrou a várias indústrias, desde logo à automóvel.
Ora, se os estados começam a apoiar as "suas" empresas, cai pela base o fundamento do comércio livre e cada vez mais gente começa a acreditar que o Mercado Único Europeu é uma armadilha para tolos. O poder dos maiores estados sobrepõe-se decisivamente ao dos pequenos, sem capacidade política ou económica para fazerem valer os seus interesses.
Caso se instale, a desconfiança no funcionamento do mercado conduzirá inexoravelmente à ruína do comércio livre e, por decorrência, à ruína da União Europeia.
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17.6.09
Factóides do dia
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Os EUA - sem dúvida o país cientificamente mais desenvolvido do Mundo - apenas emprega 17 mil físicos e 3 mil matemáticos.
A ser verdade que vivemos numa economia do conhecimento, eu e os restantes 6,4 mil milhões de habitantes do planeta limitamo-nos a parasitar o trabalho dessa por assim dizer meia dúzia de crâneos.
Sinto-me deprimido.
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Os EUA - sem dúvida o país cientificamente mais desenvolvido do Mundo - apenas emprega 17 mil físicos e 3 mil matemáticos.
A ser verdade que vivemos numa economia do conhecimento, eu e os restantes 6,4 mil milhões de habitantes do planeta limitamo-nos a parasitar o trabalho dessa por assim dizer meia dúzia de crâneos.
Sinto-me deprimido.
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Foguetes antes de tempo
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Eichengreen e O'Rourke tiveram há tempos a excelente ideia de analisar a evolução comparada da crise de 1930 com a actual. Para geral consternação, os dados disponíveis até Abril último sugeriam que a segunda é mais grave do que a anterior.
Nas últimas semanas, porém, uma sucessão de boas notícias permitiu-nos respirar fundo: é possível que estejamos perto de bater no fundo e iniciar a recuperação.
Infelizmente, a informação actualizada pelos dois economistas no princípio de Junho não autoriza muita euforia: a produção industrial continua numa trajectória tão negativa como na Grande Depressão e, sobretudo, o comércio mundial está a caír muito mais do que então.
Eichengreen e O'Rourke tiveram há tempos a excelente ideia de analisar a evolução comparada da crise de 1930 com a actual. Para geral consternação, os dados disponíveis até Abril último sugeriam que a segunda é mais grave do que a anterior.
Nas últimas semanas, porém, uma sucessão de boas notícias permitiu-nos respirar fundo: é possível que estejamos perto de bater no fundo e iniciar a recuperação.
Infelizmente, a informação actualizada pelos dois economistas no princípio de Junho não autoriza muita euforia: a produção industrial continua numa trajectória tão negativa como na Grande Depressão e, sobretudo, o comércio mundial está a caír muito mais do que então.
Do mal, o menos
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Na impossibilidade de se suspender a democracia por seis meses, talvez se consiga ao menos minorar a perturbação que ela induz na mente do povo e na produtividade laboral concentrando o máximo de votações no mesmo dia.
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Na impossibilidade de se suspender a democracia por seis meses, talvez se consiga ao menos minorar a perturbação que ela induz na mente do povo e na produtividade laboral concentrando o máximo de votações no mesmo dia.
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16.6.09
Fecho das urnas
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Algumas reacções ao meu post sobre as eleições europeias confirmam que a falta de humor é um dos mais seguros indícios de estupidez.
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Algumas reacções ao meu post sobre as eleições europeias confirmam que a falta de humor é um dos mais seguros indícios de estupidez.
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11.6.09
"Latvia: Should You Care?"
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Um excelente complemento à leitura do meu último post, escrito por Samuel Johnson na semana passada. Particularmente forte na denúncia da miopia da política económica europeia.
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Um excelente complemento à leitura do meu último post, escrito por Samuel Johnson na semana passada. Particularmente forte na denúncia da miopia da política económica europeia.
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Novidades na frente oriental
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A Letónia não integra a zona euro. A Suécia também não. Por que interveio então ontem o Banco Central Europeu (BCE) em apoio do Banco Central Sueco para sanear a situação financeira na Letónia?
A Letónia mergulhou há meses numa crise financeira semelhante àquela que há nove anos afligiu a Argentina: o produto deverá cair 10% este ano, o défice das contas externas disparou (em parte devido à indexação do lat ao euro) e o afluxo de capitais estrangeiros que sustentou a expansão nos anos recentes deteve-se abruptamente.
Acontece que os bancos letões são hoje meras sucursais de alguns bancos suecos, pelo que o afundamento do sistema financeiro da Letónia propagar-se-ia instantaneamente à Suécia e, daí, a alguns países centrais da zona euro. Por via desse receio, nos últimos dias a cotação bolsista dos bancos suecos baixou preocupantemente e a coroa sueca desvalorizou-se.
Que significado tem esta intervenção inusitada e forçosamente controversa do BCE?
Para o compreender, note-se que, caso ela não tivesse ocorrido, a Letónia seria forçada a desvalorizar imediatamente a moeda e a aumentar a taxa de juro. Isto seria altamente penalizador para a população, desde logo porque a maioria dos créditos à habitação se encontram titulados em moeda estrangeira, mas teria pelo menos o mérito de estimular as exportações e travar as importações.
A intervenção do BCE por interposto Banco Central da Suécia implica um apoio directo ao sistema financeiro sueco e indirecto ao da Letónia, visando dissipar os receios de que ele possa colapsar, desse modo modo travando a especulação contra a moeda local e evitando a sua desvalorização. A má notícia é que o ónus do saneamento financeiro do país recairá inteiramente sobre a redução do défice das contas públicas, o que não poderá deixar de ter graves consequências políticas, sobretudo tendo em conta a fragilidade do Estado letão.
Parece-me muito difícil justificar o que o BCE fez, mas, de facto, a decisão que a UE há meses tomou (sob pressão da Alemanha) de tratar caso a caso a crise no leste europeu não deixa muitas alternativas.
Na prática, o BCE está a salvar os bancos suecos das más decisões que tomaram no passado, visto que uma desvalorização do lat implicaria grandes perdas para eles. Não fica claro, porém, em que é que a desvalorização da moeda de um pequeno país de 2,2 milhões de habitante seria pior para a estabilidade financeira da UE do que a solução agora escolhida.
Também não fica claro por que não há-de ser o próprio Estado sueco a prestar socorro aos bancos do seu país, pagando o preço de, no passado, ter decidido ficar fora da zona euro.
É difícil deixar-se de tirar a conclusão de que a submissão à disciplina do euro não traz vantagens significativas aos países que o adoptaram, visto que os que não o fizeram são tratados com uma benevolência de que eles não gozam.
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A Letónia não integra a zona euro. A Suécia também não. Por que interveio então ontem o Banco Central Europeu (BCE) em apoio do Banco Central Sueco para sanear a situação financeira na Letónia?
A Letónia mergulhou há meses numa crise financeira semelhante àquela que há nove anos afligiu a Argentina: o produto deverá cair 10% este ano, o défice das contas externas disparou (em parte devido à indexação do lat ao euro) e o afluxo de capitais estrangeiros que sustentou a expansão nos anos recentes deteve-se abruptamente.
Acontece que os bancos letões são hoje meras sucursais de alguns bancos suecos, pelo que o afundamento do sistema financeiro da Letónia propagar-se-ia instantaneamente à Suécia e, daí, a alguns países centrais da zona euro. Por via desse receio, nos últimos dias a cotação bolsista dos bancos suecos baixou preocupantemente e a coroa sueca desvalorizou-se.
Que significado tem esta intervenção inusitada e forçosamente controversa do BCE?
Para o compreender, note-se que, caso ela não tivesse ocorrido, a Letónia seria forçada a desvalorizar imediatamente a moeda e a aumentar a taxa de juro. Isto seria altamente penalizador para a população, desde logo porque a maioria dos créditos à habitação se encontram titulados em moeda estrangeira, mas teria pelo menos o mérito de estimular as exportações e travar as importações.
A intervenção do BCE por interposto Banco Central da Suécia implica um apoio directo ao sistema financeiro sueco e indirecto ao da Letónia, visando dissipar os receios de que ele possa colapsar, desse modo modo travando a especulação contra a moeda local e evitando a sua desvalorização. A má notícia é que o ónus do saneamento financeiro do país recairá inteiramente sobre a redução do défice das contas públicas, o que não poderá deixar de ter graves consequências políticas, sobretudo tendo em conta a fragilidade do Estado letão.
Parece-me muito difícil justificar o que o BCE fez, mas, de facto, a decisão que a UE há meses tomou (sob pressão da Alemanha) de tratar caso a caso a crise no leste europeu não deixa muitas alternativas.
Na prática, o BCE está a salvar os bancos suecos das más decisões que tomaram no passado, visto que uma desvalorização do lat implicaria grandes perdas para eles. Não fica claro, porém, em que é que a desvalorização da moeda de um pequeno país de 2,2 milhões de habitante seria pior para a estabilidade financeira da UE do que a solução agora escolhida.
Também não fica claro por que não há-de ser o próprio Estado sueco a prestar socorro aos bancos do seu país, pagando o preço de, no passado, ter decidido ficar fora da zona euro.
É difícil deixar-se de tirar a conclusão de que a submissão à disciplina do euro não traz vantagens significativas aos países que o adoptaram, visto que os que não o fizeram são tratados com uma benevolência de que eles não gozam.
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9.6.09
As sondagens estavam certas, o erro foi dos eleitores
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As primeiras sondagens especifiamente dirigidas ao voto nas europeias indicaram logo uma brusca redução da diferença entre PS e PSD relativamente aos inquéritos que interrogavam os eleitores sobre as suas intenções relativamente às legislativas.
Suponho não ser necessário explicar o que isto queria dizer.
Fechadas as urnas, verifica-se que as sondagens previram com grande precisão o voto no PSD, no BE e no PCP, mas sobre-estimaram entre 6 a 10 p.p. o voto no PS. Ao mesmo tempo, o voto branco e nulo chegou aos 6,63%.
Escutámos nos últimos dias brilhantes análises sobre o que se passou e o que irá passar-se, cujo único defeito foi ignorar este facto objectivo básico: entre 6 a 10% dos eleitores cuja preferência ia para o PS nas eleições acabaram por não votar ou votar branco/ nulo.
Isto é muito chato, porque atrapalha a narrativa fantasiosa que desde domingo à noite tomou conta dos media, segundo a qual:
1. O voto nas passadas europeias é um indicador seguro do voto nas próximas legislativas.
3. Terminou o ciclo político do PS e de Sócrates.
4. Os eleitores renderam-se à Verdade de Manuela Ferreira Leite.
5. Rangel é um menino prodígio da política nacional.
6. A campanha eleitoral do PSD foi genial.
Por outras palavras, might is right ou tudo o que é real é racional.
Numa coisa, porém, têm razão os comentadores: a vitória, real ou imaginária, merecida ou fortuita, segura ou trémula, altera as condições subjectivas do combate político, na medida em que a embriaguez do triunfo desencadeia um impulso mobilizador proporcional ao desânimo que até agora prevalecia no PSD.
Vemos assim como estavam enganados aqueles eleitores que acreditavam poder compensar em Outubro a tolice que agora fizeram. Em política, como na generalidade da acção humana, o que é feito não pode ser desfeito sem custo ou dor.
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As primeiras sondagens especifiamente dirigidas ao voto nas europeias indicaram logo uma brusca redução da diferença entre PS e PSD relativamente aos inquéritos que interrogavam os eleitores sobre as suas intenções relativamente às legislativas.
Suponho não ser necessário explicar o que isto queria dizer.
Fechadas as urnas, verifica-se que as sondagens previram com grande precisão o voto no PSD, no BE e no PCP, mas sobre-estimaram entre 6 a 10 p.p. o voto no PS. Ao mesmo tempo, o voto branco e nulo chegou aos 6,63%.
Escutámos nos últimos dias brilhantes análises sobre o que se passou e o que irá passar-se, cujo único defeito foi ignorar este facto objectivo básico: entre 6 a 10% dos eleitores cuja preferência ia para o PS nas eleições acabaram por não votar ou votar branco/ nulo.
Isto é muito chato, porque atrapalha a narrativa fantasiosa que desde domingo à noite tomou conta dos media, segundo a qual:
1. O voto nas passadas europeias é um indicador seguro do voto nas próximas legislativas.
3. Terminou o ciclo político do PS e de Sócrates.
4. Os eleitores renderam-se à Verdade de Manuela Ferreira Leite.
5. Rangel é um menino prodígio da política nacional.
6. A campanha eleitoral do PSD foi genial.
Por outras palavras, might is right ou tudo o que é real é racional.
Numa coisa, porém, têm razão os comentadores: a vitória, real ou imaginária, merecida ou fortuita, segura ou trémula, altera as condições subjectivas do combate político, na medida em que a embriaguez do triunfo desencadeia um impulso mobilizador proporcional ao desânimo que até agora prevalecia no PSD.
Vemos assim como estavam enganados aqueles eleitores que acreditavam poder compensar em Outubro a tolice que agora fizeram. Em política, como na generalidade da acção humana, o que é feito não pode ser desfeito sem custo ou dor.
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Abster-se é tão mau como estacionar em segunda fila
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A abstenção eleitoral pode justificar da nossa parte, quando muito, um sentimento de comiseração, caso se diagnostique alguma espécie de deficiência cognitiva no paciente. Mas, descontadas situações especiais de força maior, o desprezo será a reacção mais apropriada.
Ora o descaramento dos abstencionistas atingiu nos últimos tempos tais proporções que alguns ousam apresentar-se publicamente como heróis da resistência contra a degradação da democracia. Justificam a sua atitude com o nojo pela política e pelos políticos, denunciam a falta de alternativas, exigem seriedade, recusam-se a pactuar com o sistema.
Balelas. Desculpas esfarrapadas. O cidadão responsável que não se revê nas propostas políticas existentes exprime-se votando em branco, não indo para a praia ou para o centro comercial.
O abstencionista é apenas um elemento anti-social, um oportunista que quer os benefícios da vida em sociedade e da democracia mas não estar disposto a mexer um dedo para dar a sua contribuição. O abstencionista não só cospe na cidadania como ainda por cima se orgulha disso.
Abster-se é tão mau como estacionar em segunda fila, como deitar cascas de laranja pela janela, como passar à frente na bicha do cinema, como meter cunhas na repartição, como violar a faixa bus, como desrespeitar o semáforo vermelho, como copiar nos exames, como urinar na piscina.
Terá o abstencionista razões para se chocar se alguém lhe chamar parasita?
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A abstenção eleitoral pode justificar da nossa parte, quando muito, um sentimento de comiseração, caso se diagnostique alguma espécie de deficiência cognitiva no paciente. Mas, descontadas situações especiais de força maior, o desprezo será a reacção mais apropriada.
Ora o descaramento dos abstencionistas atingiu nos últimos tempos tais proporções que alguns ousam apresentar-se publicamente como heróis da resistência contra a degradação da democracia. Justificam a sua atitude com o nojo pela política e pelos políticos, denunciam a falta de alternativas, exigem seriedade, recusam-se a pactuar com o sistema.
Balelas. Desculpas esfarrapadas. O cidadão responsável que não se revê nas propostas políticas existentes exprime-se votando em branco, não indo para a praia ou para o centro comercial.
O abstencionista é apenas um elemento anti-social, um oportunista que quer os benefícios da vida em sociedade e da democracia mas não estar disposto a mexer um dedo para dar a sua contribuição. O abstencionista não só cospe na cidadania como ainda por cima se orgulha disso.
Abster-se é tão mau como estacionar em segunda fila, como deitar cascas de laranja pela janela, como passar à frente na bicha do cinema, como meter cunhas na repartição, como violar a faixa bus, como desrespeitar o semáforo vermelho, como copiar nos exames, como urinar na piscina.
Terá o abstencionista razões para se chocar se alguém lhe chamar parasita?
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8.6.09
Os discretos vencedores da noite
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Quem é Luís Paulo Alves, ontem eleito para o PE na lista do PS? Que obra, que iniciativa, que pensamento relevante o recomendam? E, já agora, quem são Mário David, Nuno Teixeira de Jesus, Maria Patrão Neves, Regina Bastos e José Manuel Fernandes, eleitos na do PSD?
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Quem é Luís Paulo Alves, ontem eleito para o PE na lista do PS? Que obra, que iniciativa, que pensamento relevante o recomendam? E, já agora, quem são Mário David, Nuno Teixeira de Jesus, Maria Patrão Neves, Regina Bastos e José Manuel Fernandes, eleitos na do PSD?
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Europa a duas velocidades
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Olhando para as barbaridades que ocorreram em tantos países europeus no dia de ontem - com destaque para Holanda, Reino Unido, Áustria, Itália e Roménia -, devemos reconhecer que o eleitorado português integra, apesar de tudo e diga-se o que se disser, o núcleo duro da sensatez do Continente.
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Olhando para as barbaridades que ocorreram em tantos países europeus no dia de ontem - com destaque para Holanda, Reino Unido, Áustria, Itália e Roménia -, devemos reconhecer que o eleitorado português integra, apesar de tudo e diga-se o que se disser, o núcleo duro da sensatez do Continente.
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Bater no ceguinho
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Pense-se o que se pensar, as pessoas votam para confirmar governos ou derrubar governos.
Os acrescidos poderes do PE e a circunstância de o Presidente da Comissão ser Durão Barroso, cúmplice de Bush, carreirista profissional e político universalmente detestado cá no burgo criaram a oportunidade única de incitar os eleitores portugueses a votarem para derrubar o monstro.
Porém, ao anunciar que o governo português já se comprometera com a reeleição de Barroso, Sócrates veio confirmar a convicção de que as eleições europeias não servem mesmo para nada - excepto, talvez, chatear quem nos governa.
De modo que a candidatura PS, privada de propósito estratégico, começou a morrer logo aí.
A falta de respeito pelos eleitores evidenciada pelas duplas candidaturas de Elisa e Ana Gomes e o completo absurdo dos cartazes socialistas podem, neste quadro, ser entendidos como factos secundários.
O essencial é que, no PS, ninguém se deu ao trabalho de pensar mais que cinco minutos na estratégia para as eleições europeias.
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Pense-se o que se pensar, as pessoas votam para confirmar governos ou derrubar governos.
Os acrescidos poderes do PE e a circunstância de o Presidente da Comissão ser Durão Barroso, cúmplice de Bush, carreirista profissional e político universalmente detestado cá no burgo criaram a oportunidade única de incitar os eleitores portugueses a votarem para derrubar o monstro.
Porém, ao anunciar que o governo português já se comprometera com a reeleição de Barroso, Sócrates veio confirmar a convicção de que as eleições europeias não servem mesmo para nada - excepto, talvez, chatear quem nos governa.
De modo que a candidatura PS, privada de propósito estratégico, começou a morrer logo aí.
A falta de respeito pelos eleitores evidenciada pelas duplas candidaturas de Elisa e Ana Gomes e o completo absurdo dos cartazes socialistas podem, neste quadro, ser entendidos como factos secundários.
O essencial é que, no PS, ninguém se deu ao trabalho de pensar mais que cinco minutos na estratégia para as eleições europeias.
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Eleições apesar de tudo europeias
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É evidente que, dos poucos europeus que se dão à maçada de votar para o PE, um bom número fá-lo para mandar recados do mais variado tipo ao governo do seu respectivo país. É também evidente, porém, que fazem mal.
O resultado desse comportamento irresponsável foi que, por força do voto militante dos extremistas, vamos agora ter um Parlamento Europeu recheado de freaks, o que lhes concederá um peso desproporcionado e perigoso durante os próximos anos.
Na ausência de políticas estruturadas e compreensíveis para os eleitores, nada de bom poderá resultar da presente crise económico-financeira. A insegurança e, em particular, o receio do desemprego de longa duração estimulam o ódio aos imigrantes e tornam mais apelativo o proteccionismo económico.
Resumindo e concluindo, os resultados das eleições de hoje foram desastrosos para a Europa, particularmente na medida em que bloqueiam no futuro imediato todo e qualquer avanço no sentido da melhoria da sua governabilidade.
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É evidente que, dos poucos europeus que se dão à maçada de votar para o PE, um bom número fá-lo para mandar recados do mais variado tipo ao governo do seu respectivo país. É também evidente, porém, que fazem mal.
O resultado desse comportamento irresponsável foi que, por força do voto militante dos extremistas, vamos agora ter um Parlamento Europeu recheado de freaks, o que lhes concederá um peso desproporcionado e perigoso durante os próximos anos.
Na ausência de políticas estruturadas e compreensíveis para os eleitores, nada de bom poderá resultar da presente crise económico-financeira. A insegurança e, em particular, o receio do desemprego de longa duração estimulam o ódio aos imigrantes e tornam mais apelativo o proteccionismo económico.
Resumindo e concluindo, os resultados das eleições de hoje foram desastrosos para a Europa, particularmente na medida em que bloqueiam no futuro imediato todo e qualquer avanço no sentido da melhoria da sua governabilidade.
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5.6.09
Não liguem, é só um anúncio
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Venham,
amigos, não é tarde para buscar um novo mundo.
Desatracai e, postos em ordem, batam
os sonoros encaixes; pois é meu intento
navegar além de onde o sol se põe, e se banham
os astros ocidentais, até a morte.
Talvez aqueles vorazes golfos nos devorem,
Talvez venhamos a alcançar as Ilhas da Fortuna
e vejamos o grande Aquiles, nosso conhecido.
Ainda que muito esteja perdido, muito nos resta;
e ainda que perdida a força dos velhos dias
que movia céus e terras; somos o que somos;
uma coragem única nos corações heróicos,
débeis pelo tempo e pelo destino, mas persistentes
em lutar, achar, buscar, jamais render.
Alfred Tenyson
(Tradução de Salomão Sousa)
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Venham,
amigos, não é tarde para buscar um novo mundo.
Desatracai e, postos em ordem, batam
os sonoros encaixes; pois é meu intento
navegar além de onde o sol se põe, e se banham
os astros ocidentais, até a morte.
Talvez aqueles vorazes golfos nos devorem,
Talvez venhamos a alcançar as Ilhas da Fortuna
e vejamos o grande Aquiles, nosso conhecido.
Ainda que muito esteja perdido, muito nos resta;
e ainda que perdida a força dos velhos dias
que movia céus e terras; somos o que somos;
uma coragem única nos corações heróicos,
débeis pelo tempo e pelo destino, mas persistentes
em lutar, achar, buscar, jamais render.
Alfred Tenyson
(Tradução de Salomão Sousa)
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4.6.09
Duas pessoas com a mesma informação e com a mesma boa-fé chegam necessariamente às mesmas conclusões
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Numa declaração feita ontem ao fim da tarde, o Presidente da República fez uma alusão à manchete de "um jornal de fim-de-semana", remetendo os jornalistas para o comunicado da Presidência da República de 23 de Novembro de 2008.
Ora nesse comunicado emitido pela Presidência da República é referido que o Presidente não tem nem nunca teve acções do BPN. Sejamos rigorosos: nem Cavaco nem ninguém, pois o BPN era detido a 100% pela SLN, a holding do grupo. A SLN é que tem (ou tinha) cerca de 400 accionistas, entre os quais Oliveira e Costa, Joaquim Coimbra... e Cavaco Silva.
Vejamos alguns factos:
1. O Presidente comprou acções a um euro e vendeu-as a 2,4 euros. Ganhou, em menos de dois anos, 140%.
2. Entre 2001 e 2003, a economia mundial registou um abrandamento significativo e os mercados accionistas caíram 11% nesse período de dois anos. A economia portuguesa atingiu o ponto mais baixo da crise precisamente em 2003, com uma queda do PIB de 1,2%.
3. No mesmo período, o índice de holdings financeiras na Europa, sociedades com o mesmo perfil da SLN (embora cotadas em bolsa), caiu 31%. A título de curiosidade o BCP caiu no mesmo período 57%.
4. A SLN é composta por diversos activos. A BPN SGPS é, de longe, o mais relevante deles. Logo, o valor da SLN é, acima de tudo, função do valor do BPN e dos seus resultados.
5. Entre 2001 e 2003, o valor contabilístico da BPN SGPS passou de 266 milhões de euros para 298 milhões de euros, o que representa um acréscimo de 12%.
6. No mesmo período, os resultados gerados subiram de 26,7 milhões de euros para 33,1 milhões, ou seja um aumento de 24%.
Partindo do pressuposto de que as contas da SLN reflectiam a actividade do grupo (o que a comissão parlamentar de inquérito parece infirmar), qual o preço a que deveriam ser vendidas as acções de Cavaco Silva (e da filha)? Duas hipóteses:
a) Se utilizássemos os dados de balanço para determinar o valor justo de saída, o valor de venda deveria ter sido 1,12 euros;
b) Se utilizássemos a demonstração de resultados, o valor de venda deveria estar próximo de 1,24 euros.
Este conjunto de factos suscita um conjunto de questões:
1. Por que decidiu Cavaco Silva comprar acções da SLN?
2. Sendo então Cavaco Silva, além de professor de Economia, um alto quadro do Banco de Portugal, não teve conhecimento do “cartão amarelo” mostrado pelo banco central ao BPN e revelado nas páginas da Exame?
3. A quem comprou Cavaco Silva as acções?
4. Por que decidiu Cavaco vender as acções, sabendo que, não estando cotadas em bolsa, a sua liquidez era pequena?
5. Por que determinou Oliveira Costa que as acções fossem adquiridas pela SLN-Valor e pelo valor que fixou por despacho?
6. Tendo o Presidente da República dito ontem que a aplicação das suas poupanças era feita pelo seu gestor de conta, e uma vez que a carta que enviou a solicitar a venda das acções é dirigida a Oliveira Costa, pode concluir-se que o seu gestor de conta era o próprio presidente da SLN e do BPN?
LINKS:
Cartão amarelo mostrado pelo Banco de Portugal, relatado por Camilo Lourenço (Março de 2001)
Nota do Expresso (com cópia das cartas do Cavaco e da filha e despachos do Oliveira e Costa)
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Numa declaração feita ontem ao fim da tarde, o Presidente da República fez uma alusão à manchete de "um jornal de fim-de-semana", remetendo os jornalistas para o comunicado da Presidência da República de 23 de Novembro de 2008.
Ora nesse comunicado emitido pela Presidência da República é referido que o Presidente não tem nem nunca teve acções do BPN. Sejamos rigorosos: nem Cavaco nem ninguém, pois o BPN era detido a 100% pela SLN, a holding do grupo. A SLN é que tem (ou tinha) cerca de 400 accionistas, entre os quais Oliveira e Costa, Joaquim Coimbra... e Cavaco Silva.
Vejamos alguns factos:
1. O Presidente comprou acções a um euro e vendeu-as a 2,4 euros. Ganhou, em menos de dois anos, 140%.
2. Entre 2001 e 2003, a economia mundial registou um abrandamento significativo e os mercados accionistas caíram 11% nesse período de dois anos. A economia portuguesa atingiu o ponto mais baixo da crise precisamente em 2003, com uma queda do PIB de 1,2%.
3. No mesmo período, o índice de holdings financeiras na Europa, sociedades com o mesmo perfil da SLN (embora cotadas em bolsa), caiu 31%. A título de curiosidade o BCP caiu no mesmo período 57%.
4. A SLN é composta por diversos activos. A BPN SGPS é, de longe, o mais relevante deles. Logo, o valor da SLN é, acima de tudo, função do valor do BPN e dos seus resultados.
5. Entre 2001 e 2003, o valor contabilístico da BPN SGPS passou de 266 milhões de euros para 298 milhões de euros, o que representa um acréscimo de 12%.
6. No mesmo período, os resultados gerados subiram de 26,7 milhões de euros para 33,1 milhões, ou seja um aumento de 24%.
Partindo do pressuposto de que as contas da SLN reflectiam a actividade do grupo (o que a comissão parlamentar de inquérito parece infirmar), qual o preço a que deveriam ser vendidas as acções de Cavaco Silva (e da filha)? Duas hipóteses:
a) Se utilizássemos os dados de balanço para determinar o valor justo de saída, o valor de venda deveria ter sido 1,12 euros;
b) Se utilizássemos a demonstração de resultados, o valor de venda deveria estar próximo de 1,24 euros.
Este conjunto de factos suscita um conjunto de questões:
1. Por que decidiu Cavaco Silva comprar acções da SLN?
2. Sendo então Cavaco Silva, além de professor de Economia, um alto quadro do Banco de Portugal, não teve conhecimento do “cartão amarelo” mostrado pelo banco central ao BPN e revelado nas páginas da Exame?
3. A quem comprou Cavaco Silva as acções?
4. Por que decidiu Cavaco vender as acções, sabendo que, não estando cotadas em bolsa, a sua liquidez era pequena?
5. Por que determinou Oliveira Costa que as acções fossem adquiridas pela SLN-Valor e pelo valor que fixou por despacho?
6. Tendo o Presidente da República dito ontem que a aplicação das suas poupanças era feita pelo seu gestor de conta, e uma vez que a carta que enviou a solicitar a venda das acções é dirigida a Oliveira Costa, pode concluir-se que o seu gestor de conta era o próprio presidente da SLN e do BPN?
LINKS:
Cartão amarelo mostrado pelo Banco de Portugal, relatado por Camilo Lourenço (Março de 2001)
Nota do Expresso (com cópia das cartas do Cavaco e da filha e despachos do Oliveira e Costa)
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