27.11.04

A coruja de Minerva chora ao entardecer

Pulido Valente manifestou há dias inclinações neo-hegelianas que eu lhe desconhecia. Sustentava ele que será melhor deixar a parelha Santana-Portas ir até ao fim do que afastá-la agora do poder, porque só assim poderão os portugueses ficar definitivamente vacinados contra a peçonha.

Por outras palavras, é preciso dar tempo para que os processos históricos, desenvolvendo-se e mostrando sucessivamente as suas diversas facetas, revelem a sua verdadeira natureza, porque o seu pleno entendimento só pode ter lugar quando chegam à sua conclusão natural. Como dizia Hegel: a coruja de Minerva voa ao entardecer.

Acontece, porém, que fenómenos como este não são inteiramente reversíveis. Uma vez afastados os dois auto-designados líderes da nação, ficará sempre connosco, como um dos mais baixos pontos da nossa história contemporânea, a suprema ignominia de nem o país nem os seus representantes eleitos terem sido capazes de evitar que a degradação atingisse um tal ponto.

E estas coisas não podem deixar de ter um poderoso efeito desmoralizador.

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