22.11.04

Numa galáxia distante



Levei a sério as avaras estrelinhas dos críticos, e ía perdendo este filme, cujo principal personagem não é Vincent (Tom Cruise, numa das suas melhores interpretações), mas Los Angeles, obsessivamente filmada ao longo dos seus free-ways, boa parte do tempo vista de dentro de um táxi, como de facto deve ser vista, correndo sobre um fundo de milhões de luzinhas eléctricas e sob um céu nocturno permanentemente sobrevoado por aviões.

Quem a conhece sabe que LA é uma cidade notoriamente mais difícil de filmar do que Nova Iorque. Não só mais difícil de filmar, mas também mais difícil de gostar. Por isso são precisos filmes que, ao ensinarem-nos a vê-la, nos persuadam a gostar desta cidade, que deliberadamente se afastou dos padrões das cidades europeias e do leste americano a que estamos habituados, para abrir espaço aos automóveis e às amplas vias pelas quais eles circulam.

LA foi a primeira cidade feita à medida do automóvel. Nem a cidade nem quem lá vive fazem sentido sem ele. Esta cidade sem centro, sem narrativas pré-traçadas, a primeira urbe pós-moderna, com o seu labirinto infinito de possibilidades, inacreditavelmente hostil ao forasteiro que nela ousa penetrar, que exige ser aceite ou rejeitada em bloco, é a mais incómoda de todas as que conheci. Ontem, voltou a mexer comigo.

17 milhões de habitantes, e nenhum interessado em Vincent, um mero dano colateral.

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