4.11.04

Pensem um bocadinho

Por favor, olhem mais uma vez para o modo como tem evoluido o mapa eleitoral americano ao longo das últimas décadas.

Já olharam? O que vemos de forma evidente é uma evolução gradual e progressiva, mas inelutável e claríssima, que cavou um fosso entre, por um lado, os grandes centros urbanos e, por outro, os vastos estados rurais. Só faltava o New Hampshire e o Novo México mudarem de campo, como agora aconteceu, para as coisas ganharem a sua actual nitidez.

Essa brecha decorre, não tenhamos dúvidas, de crenças e valores antagónicos que opoem entre si as duas américas.

A oposição entre mundo urbano e mundo rural existe em todos os países desenvolvidos. O estranho é que, nos EUA, o mundo rural consiga impor de forma tão absoluta a sua vontade ao mundo urbano.

Será possível que as populações urbanas, das quais depende essencialmente o progresso e o bem-estar do país, se resignem a esta situação, tanto mais que ela parece não ter remédio? Alguns estudiosos norte-americanos sustentam que a evolução demográfica se encarregará de pôr termo, a breve trecho, à supremacia da América profunda do Mid-West e do Bible Belt.

Talvez. Mas, entretanto, temos agora, dentro do mesmo país, três vastas regiões geograficamente contíguas e com opções políticas, ideológicas, culturais e civilizacionais completamente distintas: a Costa Oeste, o Nordeste, e o Resto.

Os EUA tiveram no passado não muito longínquo uma guerra de secessão, sem esquecer que o Texas já declarou uma vez a independência. Mais uma vez, é hoje evidente a existência de forças centrífugas no seio da União.

Eis um cenário especulativo interessante de ficção política: estará a América a desagregar-se ao mesmo tempo que a Europa se une?

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