Um especialista europeu de geo-estratégia que vivesse no início do século XV poderia dizer qualquer coisa deste género:
A fragilidade da Europa acentua-se com as crescentes dissensões religiosas que, desafiando a autoridade papal, ameaçam dividir a cristandade ao meio, no preciso momento em que o império otomano se expande tanto no Norte de África como no Leste do continente, ameaçando apertá-lo como uma tenaz.
A Europa, incapaz de se unir quer política quer militarmente para fazer face a esse perigo, está também enfraquecida internamente pelas novas ideias humanistas que minam a confiança popular nos valores tradicionais e destroem a ética do trabalho. Hoje em dia, as pessoas só pensam em divertir-se. O Reino dos Céus deve ser imediatamente instaurado na Terra: eis o que reivindicam as revoltas camponesas que estalam um pouco por toda a parte.
Em vez de se concentrarem em desenvolver os recursos naturais do continente, um número crescente de europeus lança-se em aventuras marítimas isensatas, inspiradas pela busca do lucro fácil no comércio da pimenta, da canela, do ouro e dos escravos. Multidões de ambiciosos abandonam as suas terras, deixadas incultas, e partem para a outra ponta do mundo na esperança de fazerem fortuna pela pilhagem.
Entretanto, lá longe no Extremo Oriente, conta-se que o grande Império chinês, depois de ter conseguido estancar as invasões mongóis, entrou numa nova era de prosperidade, de tal forma que, pela primeira vez na sua história milenar, se sentiu encorajado a iniciar uma expansão marítima no Oceano Índico que levou já as suas gigantescas frotas até à Pérsia, à Arábia e à África Oriental. Em breve dobrarão o Cabo da Boa Esperança e, daí até à entrada no estuário do Tejo e à conquista sem resistência da Europa, irá apenas um passo.
Percebem agora porque é que eu não ligo nenhuma às elucubrações geo-estratégicas?
18.11.04
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