Se o escritor é uma espécie de Deus para as suas personagens, então deve assemelhar-se ao Deus autoritário, rigoroso, vingativo e cruel do Velho Testamento.
Os escritores que, com a sua compreensão, com a sua piedade, com o seu perdão, procuram emular o Deus do Novo Testamento, produzem inevitavelmente obras mais fracas, literatura de bons sentimentos mas frouxa, ao jeito do Júlio Dinis.
O Deus dos exércitos, que castiga até à sexta geração, pelo contrário, escalpeliza com rigor as fraquezas do género humano, troça das ilusões e das ambições das suas personagens, expõe-nas aos maiores tormentos, fá-las penar impiedosamente ao longo de centenas de páginas e, como se isso não bastasse, regozija-se com finais infelizes.
Mas a crueldade rende-lhe às vezes um Prémio Nobel ou, mais raramente, a imortalidade no reino da literatura. Quem não tem estômago para isto deve abster-se.
1.11.04
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