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Nesta fase da recessão mundial já deveríamos estar todos prevenidos contra mágicos esquemas de engenharia financeira que prometam resolver de forma rápida e simples problemas de enorme complexidade ao mesmo tempo que deixam toda a gente mais rica.
O mais recente de uma já longa série de milagres é o Plano Geithner anunciado no princípio da semana pela administração Obama.
Em síntese, a coisa funciona assim: Como os bancos estão atulhados de créditos de cobrança duvidosa, não têm condições para conceder créditos às empresas e aos particulares. Logo, é preciso resolver urgentemente o problema de capitalizá-los libertando-os dos activos de qualidade duvidosa que pesam negativamente nos seus balanços.
Para evitar a nacionalização, o governo americano inventou agora um mecanismo que consiste em vender esses créditos a parcerias público-privadas especialmente constituídas para gerirem activos tóxicos.
Faz-se um leilão para o mercado determinar o valor dos activos e constitui-se um fundo para cujo capital os privados e o Tesouro contribuem com parcelas iguais. O Estado dispõe-se ainda a emprestar até 85% do montante investido.
Tudo muito simples, não é verdade? Até aqui, sim, mas falta a parte mais difícil.
Primeira dificuldade: pode acontecer que o impropriamente chamado "mercado" não esteja disposto a pagar pelos activos um valor ao menos igual àquele que os bancos vendedores lhe atribuem. Nesse caso, não haverá negócio e o Plano saldar-se-á por um fiasco.
Mas alguns optimistas acreditam que os activos valem na realidade muito mais do que actualmente se supõe, de modo que, argumentam eles, haverá gente disposta a apostar nessa eventualidade.
Além disso, o que é que os investidores têm a perder? Se os activos se valorizarem, lucrarão com o negócio. Se se desvalorizarem, o grosso do prejuízo ficará para o Estado.
Caras, ganho eu. Coroas, perdes tu.
De modo que, olhando a coisa com frieza, a tentativa de evitar a nacionalização que muitos reputam inevitável conduz à promoção da especulação numa escala inaudita suportada com os dinheiros públicos.
Correrá bem? Correrá mal? Um dos aspectos mais surpreendentes deste plano é a dificuldade que os maiores especialistas têm revelado em entender todas as suas consequências. Quais os riscos reais corridos pelo Estado? Que probabilidade existe de o esquema dar para o torto? Como se safará o Estado americano nessa eventualidade? Ninguém sabe ao certo.
De modo que, depois de os privados terem criado instrumentos financeiros que de facto ninguém entendia, chegou agora a vez de o Estado procurar imitá-los.
É o Estado especulador de última instância.
PS - Isto não vos faz lembrar um bocadinho o negócio da Caixa com Manuel Fino? Pois é, tem certas semelhanças.
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3 comentários:
Mais uma vez a palavra chave é "confiança", a que se junta outra - "segurança".
Como bem descreves, que riscos existem para os investidores ? Nenhuns... excepto se o Tesouro Norte-Americano entrar em default.
Os Americanos querem "pôr a Economia a mexer" e depois se verá.
O problema está no "depois". É que, se "antes", o investidor avançava, "sem medo", agora retrai-se. Porquê ?
Confiança ...
"Anónimo, do 1º ao 7º (...)"
«Que probabilidade existe de o esquema dar para o torto?»
Vai ser preciso mais umas Freddie Macs e Feddie Maes para que se chegue a alguma conclusão...
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