21.6.10

Trampolineiros

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Quem vive na área metropolitana de Lisboa não nota muito a crise, porque, aí, o desemprego cresceu pouco e afectou sobretudo os imigrantes.

A crise portuguesa é, sobretudo, a crise do Norte, que, na última década, se tornou na região mais pobre do país - mais pobre ainda que o Alentejo - pois lá residia a indústria que foi liquidada pela concorrência da China e do Leste Europeu.

Estupidamente, o governo achou apropriado desviar fundos comunitários destinados ao Norte para aplicá-los no TGV que deverá ligar Lisboa a Espanha. Como se isso não bastasse, decidiu também fazer concentrar no Norte o esforço essencial de pagamento das SCUTs pelos utilizadores.

Sempre trampolineiro, o PSD, que desde sempre exigiu o que o PS agora se resignou a fazer, mudou subitamente de posição. Exactamente em quê?

Defende que as SCUTs devem continuar a ser gratuitas nas regiões mais atrasadas do país? Não propriamente. Sustenta então que outras regiões, entre elas o Algarve, deverão ter o mesmo tratamento que o Norte? Também não.

Para desviar as atenções, faz incidir a sua crítica sobre o meio de cobrar as portagens que o governo propõe, mais especificamente, sobre a colocação obrigatória de identificadores nos automóveis a pretexto de que isso ameaça a privacidade dos cidadãos.

Esta alegação é absurda. Mais portugueses têm telemóveis do que automóveis. O telemóvel é um equipamento mais pessoal do que o automóvel. Tendo em conta que os telemóveis têm chips e os identificadores não, que ameaça adicional à privacidade de cada um resulta do sistema de cobrança de portagens previsto? Nenhuma.

Há, como atrás escrevi, boas razões para se estar contra as portagens, mas a utilização obrigatória dos identificadores não é decerto uma delas.

Quando terá finalmente o PSD a coragem de assumir sem ambiguidades as suas próprias convicções?
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2 comentários:

Carlos Albuquerque disse...

Há uma diferença essencial entre os telemóveis e os chips: posso desligar o telemóvel sempre que me apetecer. Basta que os chips tenham a mesma possibilidade e resolvem-se os problemas de privacidade, pois será suficiente ligar os chips quando se for circular numa (ex-)SCUT.

A comparação com os telemóveis parece-me perigosa, pois os animais já são obrigados a ter um chip no corpo e se não temos cuidado qualquer dia somos nós que temos que ter um chip instalado.

Acho que é essencial neste caso separar bem as águas, pois os riscos sobre a privacidade são bem mais sérios do que as receitas das SCUTs e de qualquer modo é possível (com um pouco de competência técnica, que tem faltado) pagar as SCUTs sem o "big-brother" automóvel.

Diogo disse...

Em primeiro lugar, as SCUT devem ser todas nacionalizadas o mais rapidamente possível pelo preço justo.

Depois, serão portajadas ou não, consoante as alternativas existentes.


Quanto aos chips, concordo com o comentador anterior.