Causas económicas do apagão. O que há de comum entre o escândalo da Enron e o apagão que afectou o noroeste dos EUA e o Canadá há uma semana? Em ambos os casos, gestores de topo de empresas privadas inflacionaram a rentabilidade de curto prazo à custa da deterioração acelerada dos activos.
No primeiro caso, fizeram-no recorrendo a manobras desonestas e ilegais; no segundo, limitaram-se a seguir aquilo que muitos consideram ser os princípios da boa gestão, ou seja, cortando custos a tordo e a direito, sem querer saber das consequências de longo prazo. No primeiro caso, conduziram a empresa à ruína e os trabalhadores ao desemprego; no segundo, as empresas responsáveis não foram, para já afectadas, e os custos foram suportados pelos consumidores e por centenas de milhares de empresas que necessitam da electricidade para operar.
Estamos perante um sintoma de um mal mais vasto. Como explica John Kay num luminoso artigo publicado esta semana no Financial Times, trata-se de financiar o presente à custa da deterioração do futuro. Moral da história: qualquer idiota é capaz de reduzir custos destruindo a capacidade de prestar um serviço de qualidade aos cidadãos.
Em mercados bem formados e competitivos, a concorrência encarrega-se de penalizar estes comportamentos desviantes. Todavia, quando essa concorrência não existe ou é fraca, como sucede na maioria dos serviços públicos (electricidade, claro, mas também água, gás, caminhos de ferro, até certo ponto telecomunicações), não existe ainda nenhuma sanção real para os prevaricadores.
Uma ideia: obrigar os responsáveis pelo apagão a pagarem os prejuízos causados a todas as empresas e particulares. Mas, com esse ónus, algum privado estaria interessado em gerir uma empresa de electricidade?
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