O direito à palavra. Nas televisões dos países civilizados, o direito à palavra é severamente racionado, de tal forma que até as maiores figuras políticas têm que se despachar depressa a dizer o que têm para dizer.
Nos debates presidenciais americanos, cada candidato tem dois minutinhos para responder a cada pergunta, vinte segundos antes do fim do tempo acende-se uma luzinha e quando ele acaba, o microfone é desligado.
Mais a Sul, nas últimas eleições presidenciais brasileiras, vimos mais um exemplo de debate civilizadíssimo e vivíssimo, com os tempos de Lula e Serra bem controlados e sem gritarias nem interrupções.
Aqui, em Portugal, temos outro modelo. Nos debates abertos, mete-se o máximo de gente a gritar ao mesmo tempo, de sorte que mesmo o telespectador mais interessado em política foge rapidamente para um programa de maior nível cultural, como, por exemplo, uma transmissão de futebol.
A outra face desta moeda é a entrega de uma hora de emissão a um chico esperto que monopoliza esse período de tempo a falar do que lhe vem à cabeça mas sempre, sempre, sobre coisas de que não entende um mínimo. Em suma, conversa da treta servida em doses cavalares. Estou a referir-me, evidentemente, àquelas estranhíssimas (para qualquer pessoa bem formada) intervenções de Marcelo na TVI aos domingos.
O que isto indicia é que, ao contrário do que se passa em sociedades razoavelmente democráticas, não existe entre nós uma competição livre e saudável pelo espaço televisivo: ele é adjudicado mediante atribuição de um alvará a alguém amigo por razões obscuras que só os próprios entendem. Chama-se a isto «ajuste directo», uma expressão que oculta mais do que revela.
Mas não é esse, ainda hoje, diga-se o que se disser, o princípio básico organizador da nossa vida económica e social?
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