18.8.03

O apagão da liderança. O apagão confirmou mais uma vez o extraordinário espírito de iniciativa e de auto-organização dos nova-iorquinos.

Ao mesmo tempo, comprovou também a endémica falta de liderança de que padece a América. O mayor da cidade limitou-se a afirmar que não se tratava de um acto de terrorismo e só muito tarde fez declarações mais substanciais. Hilary Clinton, senadora do Estado, debitou lugares comuns a partir do telemóvel do carro, ao final da tarde, a caminho de casa. O governador do Estado anunciou que faria declarações depois da meia-noite. O esforçado George Bush mencionou vagamente, muitas horas depois do início da ocorrência que estaria a ser investigada a hipótese da queda de um raio sobre a central de Nyagara, mas que, ao certo, nada se sabia.

A CNN deu um show de informção medíocre. Um único repórter na rua entrevistava algumas pessoas. Câmaras plantadas no alto dos prédios mostravam ruas e pontes apinhadas de gente. Nenhuma imagem de qualquer outra cidade norte-americana ou canadiana atingida para além de Nova Iorque. Informação esclarecedora ou reportagem viva – praticamente nada.

Ocorreu-me mais uma vez que os americanos vivem obcecados pela liderança individual, que incansavelmente glorificam no seu cinema, precisamente porque não a têm em abundância. Basta olhar para a lista dos presidentes americanos para ver que, desde Roosevelt, nenhum tem verdadeira estatura de líder – não é preciso, porque a máquina funciona bem à mesma. A força da América está no colectivo, no planeamento e na organização.

Na Rússia, curiosamente, é ao contrário. Falam o tempo todo da alma russa e da força do povo russo, mas a verdade é que, como colectivo, pouco valem. Em contrapartida, o país exibe, mesmo nas piores épocas, uma pleiade impressionante de grandes individualidades.

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