11.9.04
A música do instante
A gente prepara-se para ouvir uma peça de Webern, mas ainda não está bem sentada quando ela já terminou.
Raras são as composições que duram mais do que cinco minutos, e há andamentos com apenas vinte segundos, coisa para menos do que cinco ou seis compassos. A Sinfonia opus 21 não tem, ao todo, mais que dez minutos. As obras completas cabem, sem excessivos apertos, em três CDs.
A audição da música de Webern coloca particulares dificuldades pela total concentração que exige do auditor. Há alguma grande música que também pode servir, embora com evidente perda para quem a escuta, como música de fundo. Não assim a de Webern: ou se lhe dedica uma atenção absoluta e não partilhada, ou se perde integralmente.
Por isso ela funciona tão mal nas salas de concerto, onde raramente é escutada. Há demasiados factores de perturbação, mesmo em espaços públicos pequenos, a inbirem a necessária concentração de espírito. O seu meio ideal é, por isso, o registo fonográfico.
Webern não tem tempo a perder, e também não nos quer fazer perder tempo a nós. Devemos louvá-lo por isso. Ele nunca repete duas vezes a mesma ideia musical. Redu-la à sua essência e entrega-a ao público sob essa forma depurada. Não lhe interessa a parra, apenas a uva.
Webern é um excelente exemplo da ética da concisão na arte. Por isso, a sua música tem sido comparada aos haiku japoneses.
A riqueza tímbrica - Schoenberg chamou-lhe melodia tímbrica - da música da Webern confere-lhe um colorido particular. A concisão, a sobriedade, o miniaturismo e a invenção cromática fazem dela o equivalente sonoro da pintura de Paul Klee ou da escrita de Italo Calvino.
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