22.9.04

À unha, à unha

Será verdade que os povos aprendem com o exemplo? Se for, já estou daqui a imaginar as consequências da decisão da Ministra da Educação de realizar à mão o trabalho de distribuição dos professores pelas escolas. As escavadoras serão substituidas por colheres de sopa, as camionetas por burros, os emails por pombos-correios.

Este caso tem, apesar de tudo, o mérito de permitir a todo o país perceber uma quantidade de coisas, entre elas as causas da nossa baixa produtividade. Torna-se evidente, por exemplo, que de nada vale pôr um conjunto de pessoas a trabalhar dia e noite durante meses a fio, até cairem para o lado, se os dirigentes não têm a mínima ideia do que estão a fazer.

A organização eficiente do trabalho depende em grande medida da sensatez dos objectivos e da adequação dos instrumentos utilizados à tarefa proposta. Ora não é efectivamente sensato centralizar a decisão de distribuir os professores na 5 de Outubro.

A complexidade de um sistema aumenta exponencialmente à medida que cresce o número dos seus elementos (lei de Metcalf). Por conseguinte, quando estamos a lidar com centenas de escolas e dezenas de milhar de professores avaliados segundo múltiplos parâmetros, mesmo o mais poderoso computador terá dificuldade em enfrentar tais níveis de complexidade, sobretudo se as regras de distribuição forem elas próprias confusas.

Nestas condições, aquilo que cada escola individualmente resolveria com uma simples folha de Excel transforma-se numa missão virtualmente impossível para um super-programa a correr num super-computador.

Os computadores podem ser uma extraordinária ferramenta ao serviço da produtividade das organizações, se se aproveitar a sua introdução para simplificar e racionalizar os métodos de trabalho. Quando os procedimentos são estúpidos e complicativos, enfiá-los num computador só aumenta a rigidez do sistema, na medida em que impede o desenrascanço que entre nós usualmente mantém as coisas a trabalhar.

Interrogam-se os nossos sábios porque é que os portugueses se dão tão mal com a Matemática. O estrondoso fracasso dos computadores do Ministério da Educação sugere que, afinal, essa nossa indiferença revela um saudável bom-senso. Talvez a Matemática funcione bem lá na América ou na Alemanha, mas cá, manifestamente, não se aplica. Modernices...

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