Se a Igreja Católica tivesse sido inventada por portugueses, podemos estar certos de que nunca funcionaria.
Um fiel dirigia-se ao confessionário e narrava os seus pecados, tal e qual como agora sucede, mas, quando pedia a absolvição, o padre retorquia-lhe: «Alto lá! Isso agora mais devagar! Tem que fazer um requerimento ao Papa e depois aguardar uma resposta.»
«E a resposta vem depressa? É que, se eu morro entretanto, corro o risco de ir parar ao Inferno.»
«Aí é que já não é comigo... Tem que ter paciência... Demora o que tem que demorar, porque há muito serviço acumulado e ouvi dizer que as listas de espera estão a aumentar todos os dias. Mas olhe, não perca mais tempo com lamúrias: vá já à sacristia buscar o impresso, porque depois de preenchê-lo ainda tem que reconhecer a assinatura no notário. E, quando mandar pelo correio, junte a declaração do IRS, para provar que está isento de taxa moderadora.»
Entretanto, lá no Vaticano, as listas de espera iam de facto crescendo. Um estrangeirado, desses que estudaram nos EUA, alvitrava que, para pôr cobro ao estrangulamento e salvar mais almas, fosse delegado nos padres o poder de perdoar os pecados.
Noutros tempos, esse herege seria queimado numa fogueira, mas agora, em pleno século XXI, os tugas de serviço limitar-se-iam a rir-se-lhe na cara por se atrever a sugerir que um poder tão transcendente poderia ser cometido a um qualquer sacerdote de base.
Além disso, explicariam eles, a descentralização do poder de decisão conduziria inevitavelmente ao crescimento da corrupção. Pois não se estava mesmo a ver que os padres começariam a extorquir dinheiro, galinhas ou presuntos aos paroquianos a troco da entrada no Reino dos Céus?
Pois é assim mesmo: Deus delega a responsabilidade do perdão dos nossos pecados a qualquer pároco de aldeia, mas o Ministério da Educação de Portugal não permite às escolas recrutarem livremente os professores de que necessitam.
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