Lenine costumava dizer que a social-democracia era política burguesa para operários - o que pode ser encarado como um elogio ou como um insulto, dependendo do modo como cada um valoriza a chamada política burguesa.
O que não se pode é negar algum fundamento a essa caracterização. Depois de se afastarem das suas origens marxistas, os partidos da 2ª internacional converteram-se em paladinos da moderação. E que moderavam eles? Pois moderavam, no essencial, os ímpetos revolucionários dos movimentos laborais reivindicativos inflamados pela retórica bolchevique.
No fundo, porém, os objectivos declarados de longo prazo dos socialistas não diferiam acentuadamente dos dos comunistas, na medida em que deveriam conduzir, a prazo, à socialização do sectores-chave da economia. Apesar se batiam por esses objectivos com mais jeitinho. Com tanto jeitinho que, na opinião dos comunistas, isso implicava adiar o seu cumprimento para um futuro indefinidamente longínquo.
Quando a ideologia comunista começou a entrar em decadência, muito antes ainda da queda do Muro de Berlim, os socialistas, deixando de ter uma esquerda para moderar, passaram a dedicar os seus melhores esforços a moderar a direita. Não serei eu a criticá-los por isso: porque era preciso, e porque sempre é melhor que nada.
Permanece porém, este facto, a meu ver indesmentível: a esquerda passou a ter uma postura puramente reactiva e deixou de ter um programa próprio. No essencial, ela vive da saudade, como exemplarmente se constata na chamada esquerda do PS, a qual, não tendo ideias diferenciadoras relevantes, se contenta em brandir orgulhosamente ícones inofensivos do seu passado glorioso, como sejam os cravos de Abril, o punho fechado e alguns poemas do Manuel Alegre.
Tanto quanto eu saiba, há só uma excepção no socialismo europeu, um só partido que demonstrou capacidade para se desembaraçar de um lastro inútil de lugares comuns e palavras de ordem vazios e de avançar com uma plataforma de esquerda relevante para o mundo de hoje. Estou a falar, obviamente, do execrado New Labour de Tony Blair, cuja reputação piorou ainda mais um pouco com o infeliz apoio do seu governo à guerra do Iraque.
Voltarei a este assunto.
2.9.04
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